Literatura feita para os pequenos


Literatura feita para os pequenos (Foto: Divulgação)
No Dia Internacional do Livro Infantil, autores comentam a difícil (e prazerosa) arte de escrever para crianças (Foto: Divulgação)
















“O bacana é o retorno, que é imediato e muito sincero. Se não entendem, não gostam, e dizem mesmo”. Para o escritor paraense Guaracy Brito Jr., esse é o lado bom de se escrever para crianças. E há um dia dedicado a essa literatura de público tão especial, o Dia Internacional do Livro Infantil, comemorado hoje, 2 de abril.
A data foi escolhida para homenagear o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, que nasceu neste dia e é considerado o primeiro autor a adaptar fábulas para a linguagem dos pequenos leitores.
No Pará, Guaracy é um dos escritores que viu brotar em si o interesse pelo diálogo com o universo infantil a partir do contato com crianças. Ele já escrevia contos curtos para jovens quando sua sobrinha de seis anos de idade lhe pediu para explicar o que era uma nuvem.
“Eu disse que não saberia explicar naquele momento, mas que logo lhe daria uma resposta. Durante a semana seguinte, escrevi um texto e sem querer ficou redondinho, com uma pegada infantil”, relembra.
Ao mostrar para amigos que trabalham com crianças, recebeu opiniões muito positivas sobre o texto e assim nasceu o livro “A Nuvem”.
Outro autor paraense que também dedica uma parte de sua produção ao público mirim é Paulo Nunes. “Comecei a escrever ouvindo as histórias de minha avó, dona Judith, uma cabocla marajoara. Eram lendas, histórias de pescadores, visagens, tudo ela nos contava antes de dormir. Na escola, gostava de pescar letrinhas e arrumá-las nos papéis. Li bons poetas, o primeiro marcante foi Olavo Bilac, depois descobri Manoel Bandeira, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles, os românticos brasileiros – como não se encantar com “Navio Negreiro”, de Castro Alves? - e um autor marcante e decisivo: Bartolomeu Campos Queirós”, ele conta.
Assim, Paulo Nunes tornou-se autor de diversos livros, como “Em Citrial, uma História que Parece Duas”, sua obra de estreia, que ganhou um prêmio concedido pela secretaria municipal de Educação em 1986 e que escreveu em parceria com Branco Medeiros. “Banho de Chuva”, lançado em 1990 com ilustrações de Tadeu Lobato, e que em 2014 ganhou a sexta edição com novas ilustrações feitas por Emanuel Franco, levou o Selo Salas de Leitura/Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação (MEC).
Outro destaque é “O Mosquito Q’engoliu o Boi”, com ilustrações geniais de Emannuel Nassar, e que foi selecionado para o Salão do Livro da Juventude em Saint-Dennis, França.
Questionado se possui um favorito, Nunes diz que “não propriamente”, mas que tem “especial estima por ‘Banho de Chuva’” e tem um “chamego” pelo mais recente, “Gitos, Meus Minicontos Amazônicos”, para ele, “uma pequena joia, modéstia à parte”.
Na hora de escrever, cada um tem seu modo. “No momento da escrita me preocupo apenas em criar uma história. Às vezes não sei onde vai dar, se em um livro juvenil, infantil ou adulto. Vou pelo que me empolgar, o que eu gostar”, diz Guaracy.
Já Paulo Nunes se preocupa em escrever de forma que a história contenha o jogo de palavras e as metáforas marcadas pelos sonhos da infância dele. “Se estabelece um diálogo, portanto, entre gerações”, avalia.
SEM SUBESTIMAR
Para Paulo Nunes, “é preciso ter cuidado pra não usar uma linguagem inacessível, mas também não se deve subestimar o leitor”. Sobre este não subestimar, Guaracy acredita que é preciso aproveitar as histórias para tocar em diversas temáticas.
Após “A Nuvem”, ele escreveu “O Patinho Que Fazia Quã”, que se passa numa ilha de Belém e tem como personagem um pato ao qual podem caber muito destinos, inclusive ir parar na panela.
“Engraçada é a reação dos pais, afinal a morte não é muito discutida no âmbito da criança. Eles têm medo de que elas fiquem traumatizadas. Mas ora, isso faz parte da vida, e depois o pato vai para o céu, onde conhece Deus, anjos e até Noé”, diz.
E a alegria dos autores está também no fato de que, ao entrar em contato com o livro logo na infância, os pequenos têm mais chances de se tornarem leitores a vida inteira.
“Às vezes faço leituras para crianças e elas têm uma interação muito forte com o livro. Além disso, o encontro com o escritor – que para elas é uma figura distante, quase mágica –, reforça que a criança pode, inclusive, se tornar uma escritora um dia”, pontua Guaracy.
“É importantíssimo investir em livros para a infância. Editores sabem que este é um filão que deve ser aproveitado, mas é preciso ser mais criterioso ao escolher o que publicar. Este negócio de literatura ‘tatibitate’ é uma porcaria, muito moralismo, muita literatura que quer fazer a cabeça. Literatura é prazer, diversão, jogo”, completa Paulo Nunes.
(Diário do Pará)