Alceu Valença estreia na direção com faroeste

CINEMA: A luneta do tempo, em forma de cordel, levou 14 anos para sair do papel

O faroeste – ou western, como chamam os puristas – é um gênero tipicamente americano, com seus heróis e bandidos de chapéu e pistola na mão, duelando pelo Velho Oeste. Entretanto, isto não significa dizer que os Estados Unidos sejam os únicos capazes de rodar filmes de qualidade neste estilo. O Brasil, quem diria, ganhou um belo exemplar do gênero através de um iniciante detrás das câmeras: o cantor e compositor Alceu Valença.
A Luneta do Tempo, filme de estreia cantor na sétima arte, levou 14 anos para sair do papel. Em parte pelo desconhecimento de Alceu com a técnica cinematográfica, em parte pela dificuldade natural em obter recursos para fazer cinema no país. O resultado, mesmo diante de tantas dificuldades, é encantador. Nem tanto por ser um filme perfeito, o que não é, mas pela paixão existente no longa-metragem. Há uma vibração inerente que contagia, atrai o espectador para este universo tão próximo e, ao mesmo tempo, onírico. Trata-se não apenas de um mero faroeste, mas de um filme com traços tipicamente brasileiros que, ainda por cima, são usados para subverter o formato tradicionalmente explorado pelo gênero. Um faroeste em tom de cordel, simples assim.
Centrado nas figuras de Lampião e Maria Bonita, o longa-metragem acompanha os embates dos cangaceiros com a polícia que os caça, liderada por Antero Tenente. Não espere o didatismo contado nos livros de história, Alceu Valença está mais interessado em usar os ícones em torno do cangaço – a roupa, o modo de falar, a honra entre seus integrantes, a imagem mítica do casal – para compor seu repente pernambucano visando a ação, através de duelos ágeis e tensos. 

Edição: Roberto Lisboa
Fonte: O Liberal