Milton Nascimento encerra turnê e estreia série de TV
Juntar amigos e tê-los por perto é uma constante na vida de Milton Nascimento. No encerramento da turnê Clube da Esquina, não será diferente. O público de São Paulo pôde ver neste fim de semana o cantor e compositor ao lado de um elenco estelar, formado por artistas que estiveram presentes no disco de mesmo nome lançado em 1972 - e, no segundo volume, que saiu seis anos depois - e colegas de gerações posteriores influenciados pela mistura de jazz, rock e pop que Milton e seus parceiros promoveram.
Velhos amigos de Milton, Lô Borges, Wagner Tiso e Flávio Venturini se cruzaram com Criolo, Maria Rita e Maria Gadú nas duas apresentações no Espaço das Américas - na sexta-feira e sábado passados. Há ainda um show no próximo dia 25 no Rio de Janeiro, sem a presença de Maria Rita, mas com a inclusão de Gal Costa. Na sequência, Milton se torna personagem principal da série Milton e o Clube da Esquina, que estreia no Canal Brasil em 31 de janeiro.
Como já disse Milton em Nos Bailes da Vida, composta por ele e Fernando Brant (1946 - 2015), todo artista tem de ir aonde o povo está. "Não canso de dizer que essa é a turnê que mais tem me emocionado. Além dos shows no Brasil, o pessoal lá fora recebeu a gente de um jeito que eu nem sei dizer direito. Fiquei muito emocionado em todos os países por onde passamos. E sinceramente eu não esperava reviver esse sentimento de fazer show em estádio, em arenas, e nos grandes festivais abertos ao público. É uma emoção inexplicável", diz.
Os álbuns que Milton lançou nos anos 1970 se tornaram referência da música brasileira mundo afora, e até hoje chamam atenção de artistas estrangeiros. Em 2019, o músico Sean Lennon, filho de John Lennon, disse à revista musical canadense Exclaim! que o ex-beatle tinha discos de artistas brasileiros, e destacou a presença de LPs de Milton na coleção. "Eu realmente ouvi muito Milton Nascimento no ano passado", afirmou Sean.
Milton conta que nunca pensou muito sobre a importância de um disco tão celebrado como Clube da Esquina. "Eu gosto de ouvir o que as pessoas sentem. E o que me deixa feliz mesmo é ver que muita gente ainda tem interesse pela nossa música. Isso é o que vale a pena pra mim".
Ronaldo Bastos, parceiro de Milton em Cravo e Canela, Cais e outros clássicos que estão no roteiro do show, reforça que a atmosfera do álbum permanece atual. "Muitas ondas e gerações ainda virão e o Clube da Esquina estará de pé, na estrada dos sonhadores. Aquele bando de cabeludos não pensava em fama; o que eles queriam era ser uma lenda. A lenda que Milton Nascimento, com sua trupe, transformou em realidade para sempre."
Televisão
Idealizada por Fabiano Gullane e tendo Milton e seu filho Augusto K. Nascimento como produtores associados, a série Milton e o Clube da Esquina mostra encontros do artista com Seu Jorge, Gal Costa, Criolo, Maria Gadú, Samuel Rosa, Iza e Ney Matogrosso A atração ainda tem conversas conduzidas pelo ator Gabriel Leone, fã do Clube da Esquina desde criança.
"A gente queria trazer a sensação da gravação do disco, a emoção do estúdio, as pessoas criando juntas. Era importante que o Milton e o Clube da Esquina tocassem e relembrassem como foi gravar cada uma daquelas músicas. Queríamos algo totalmente musical, descontraído e emocionante. Além de documentar, precisava ter entretenimento", afirma Vitor Mafra, diretor da série, gravada em um estúdio nas montanhas de Nova Lima, ao lado de Belo Horizonte.
O primeiro dos seis episódios tem números musicais entremeados por um bate-papo de Milton com três de seus principais parceiros, Lô Borges, Ronaldo Bastos e Márcio Borges, que conversam sobre as canções escritas por eles nos anos 1970. A banda formada pelo produtor BiD especialmente para a gravação da série manteve nas releituras os timbres dos registros originais.
Interpretada por Milton e Samuel Rosa, Para Lennon e McCartney, por exemplo, recupera as guitarras distorcidas de Milton (1970), disco gravado com o grupo Som Imaginário que marcou a aproximação de Milton com a sonoridade roqueira.
"Milton ficou muito à vontade, pois todos os presentes eram pessoas que ele gosta muito. Me arrisco a dizer que, talvez, o Milton tenha sido retratado de forma como nunca se viu", diz Mafra.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)
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