Belém vira literatura de cordel nas mãos do escritor pernambucano Ivaldo Batista




Com 403 anos recém completados, Belém do Pará virou literatura com sotaque nordestino. O escritor Ivaldo Batista, de Pernambuco, veio a Belém no período do aniversário da Cidade das Mangueiras com um único objetivo, divulgar a literatura de cordel de um jeito todo especial: com um livreto em homenagem a própria cidade.
Professor de História aposentado, Ivaldo cultiva um amor por Belém desde o berço. Isso porque ele divide com a capital paraense a data de aniversário, e desta vez decidiu presentear pessoalmente a população paraense com sua literatura.
“Acho que em termo de cultura, o Pará tem tudo em casa. A culinária não pega emprestado de ninguém, tem o carimbó, e o Ver-o-Peso, para fazer a intermediação dos produtos que vem da floresta para a capital”, diz.
Em uma viagem que durou 10 dias, ele distribuiu em instituições da cidade, exemplares do cordel “Belém do Pará - Além do Açaí”, escrito em homenagem à cidade. Mas as produções não pararam por aí. Ivaldo escreveu ainda um cordel exaltando uma das personalidades da cidade: Dona Onete.
“Eu sempre faço um cordel sobre algum personagem, então surgiu a ideia de fazer sobre alguém de Belém. De início seria o Pinduca, mas no ano passado um amigo meu foi até  a minha casa e me apresentou a Dona Onete. Eu achei muito interessante porque ele me mostrou a música do pitiú, e quando vi já tinha aprendido todas as letras. Decidi deixar o Pinduca de lado por um tempo, porque achei que a Dona Onete representava o que eu queria”, explica o autor.
“Tudo o que representa Belém ela fala nas músicas, é uma representante legítima do Pará. Eu nunca cheguei a conhecê-la ou ir a algum show, mas acompanhei shows que ela fez em várias partes do Brasil, comecei a ver entrevistas e pesquisar sobre ela, para compreender Belém a partir da visão dela”, conta Ivaldo.
Aos 56 anos, esta foi sua segunda visita a Belém. A primeira, que rendeu a publicação do cordel, foi 30 anos atrás, quando veio a convite de um amigo, e se apaixonou pela cidade.
“Dessa vez eu saí de carro com destino a Belém e passei 10 dias. A ideia era comemorar meu aniversário junto a cidade, e comer o bolo do aniversário”, explica. “Me aposentei em julho de 2018, depois de ter trabalhado por 33 anos como professor nas redes pública e privada. Eu disse para mim mesmo: ‘agora eu vou rodar o Brasil’”.
Ivaldo entregou exemplares do folheto em diversas instituições da cidade, como a Fumbel, bibliotecas da UEPA e UFPA, Arquivo Público do Pará, sede do IPHAN em Belém, e bibliotecas de algumas escolas públicas e particulares da cidade. Foram ao todo 29 lugares, em que exemplares dos cordéis podem ser consultados pelo público.
O escritor avalia a viagem como ótima, onde mais de 100% dos objetivos foram atingidos quanto a distribuição do livro. Sua única frustração foi não ter encontrado Dona Onete para lhe entregar pessoalmente um exemplar do cordel que escreveu sobre ela, intitulado "Dona Onete - O segredo dessa lenda viva do Pará".
“Me disseram que ela morava na Cidade Velha, então eu rodei o bairro atrás dela, mas não encontrei. A dona Cheirosinha, do Ver-o-Peso, me disse que ela morava no Jurunas, mas que não podia dar o endereço dela; então eu fui até o bairro também, mas não encontrei novamente; até que alguém me disse que ela morava na Pedreira. Também não a encontrei”, relembra.
Após diversas tentativas de encontrar com Dona Onete, Ivaldo conta que o secretário da Fumbel disse que entregaria a ela em mãos, e pediu para que ele autografasse o exemplar que seria entregue a cantora.
Conhecido como o Missionário do Cordel, Ivaldo roda o país distribuindo os livrinhos impressos em papel colorido. Ele diz que sua missão é levar o cordel para todas as regiões do Brasil, e Belém foi uma das cidades escolhidas por ele. Para um próxima viagem, ele revela que planeja trazer dois novos cordéis, sobre duas outras grandes paixões dos paraenses: o Remo e o Paysandu.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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