No Dia do Quadrinho Nacional, Pará apresenta seus novos talentos




O Dia do Quadrinho Nacional é comemorado nesta quarta-feira, 30 de janeiro. A cena paraense, especialmente de Belém, está efervecente com o surgimento de coletivos de produção independente de histórias em quadrinhos, porém, ainda muito carente de apoio à publicação, apesar do incentivo público para o estímulo à qualificação de novos quadrinhistas.
Concluinte do Curso de Artes, Matheus Sousa, de 22 anos, começou a criar os próprios personagens e HQs na infância e, no ano passado, montou o estúdio "Mágico Se" com outros quadrinhistas. O grupo já publicou uma revista e dois fanzines em menos de um ano. "É mais do que um hobby", diz.
Já Rosinaldo Pinheiro, 41 anos, criador da "Turma do Açaí" há dez anos, conseguiu publicar cinco revistas e fazer duas animações com os personagens dele, durante esse período. Os personagens são inspirados em pessoas da família e amigos de infância e as histórias têm o município de Igarapé-Miri como paisagem.
Além de valorizar a cultura paraense, mostrando a vida dos ribeirinhos e o vocabulário recheado de expressões regionais, a Turma do Açaí tem o propósito educativo da defesa do meio ambiente. As cinco publicações foram feitas com incentivos, que, apesar de importantes, são ocasionais e incapazes de garantir a sobrevivência do artista.
Rosinaldo se sustenta ministrando oficinas de quadrinhos e de animação. "Sonho que tenha um exemplar (da Turma do Açaí) todos os meses para vender na bancas de revista".

O técnico em Gestão Cultural da Fundação Cultural do Pará (FCP), Andrei Miralha, explica que a “5a Semana do Quadrinho Nacional" está dando destaque este ano para novos artistas de HQs de Belém, principalmente os coletivos como "Açaí Pesado", "Simplesmente, Eneida" e "Mágico Se", além "Tripas Tristes", de Elton Galdino e "Homem Urubu", de Giovani.
"Tem uma galera que produz tirinhas em redes sociais que estão fazendo sucesso. O Mágico Se está com mais de 10 mil seguidores. Já o Giovani, do Homem Urubu, se fantasia como um cosplay do personagem dele, assim como a mulher dele, a Mulher Garça. Ele começou a postar na internet e pretende lançar a revista até o final do ano". A Semana do Quadrinho Nacional acontece até a sexta-feira, 1º, na sede da FCP, no Centur.
Matheus Sousa conta que começou a desenhar aos oito anos de idade, após ler o primeiro gibi da Turma da Mônica. Apaixonado pelos personagens de Maurício de Souza, ele criou os próprios personagens e começou a escrever e a publicar artesanalmente as HQs aos 17 anos.
Foi na Fundação Curro Velho que ele conheceu os parceiros do estúdio Mágico Se, criado em abril de 2018: Helô Rodrigues, Ítalo Miranda, Alan Furtado e Ad Gomes. Juntos eles criaram vários personagens, como Mágico, detentor da criatividade humana; Ju Desguiada (que representa a vivência da mulher negra no centro urbano); o gatinho Bilu; o astronauta Jorge, que tenta voltar para casa; o detetive Catitu; a Morte Solitária e a Inconsequente Vida. "Fizemos uma revista alusiva à Semana da Consciência Negra e, hoje, estamos produzindo o fanzine e adesivos, além de canecas e camisetas com as estampas dos nossos personagens", conta. 
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Já Thaís Silva, a Tay Silva, 28 anos, do coletivo Purumã, produziu o primeiro quadrinho no ano passado após um laboratório de quadrinhos na Casa das Artes. O HQ Simplesmente, Eneida foi uma homenagem à escritora Eneida de Moraes, que reuniu seis histórias de vários autores do grupo, inspiradas em diferentes contos da autora.
A revista foi publicada pela Fundação Cultural do Pará. "Eu me interesso por quadrinhos desde criança, fiz TCC do Curso de Moda e tese de mestrado sobre quadrinhos. Sempre trabalhei com ilustração, mas com 'Simplesmente, Eneida',  passei a me dedicar também aos quadrinhos".
Foi quando ela se juntou a Adriano Lima, Keoma Calandrini, Paulo Mashiro e Tico de Mello para montar o coletivo Purumã. O objetivo do grupo é fazer quadrinhos e outros produtos, como ilustrações com teor regional. "Publicamos no Facebook, toda semana, as histórias da semente Pururuka, que se envolve em temáticas e ambientes diferentes, lidando com sentimentos humanos, aventura, crítica política e comédia, entre outros. Têm tido boa aceitação." O grupo também posta ilustrações e faz a interação com vídeos ao vivo no Instagram.
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Esta semana, vários quadrinhistas se uniram para lançar o fanzine #DRX (Di Rocha), que foi organizado pelo Açaí Pesado, com histórias de temas livres. 
A voz da experiência 
Rosinaldo Pinheiro publicou exemplares da Turma do Açaí com histórias voltadas a temas educativos, como a destinação do lixo urbano e a segurança no transporte fluvial, incluindo a prevenção a acidentes de escalpelamento. Os gibis foram distribuídos para escolas, bibliotecas e outros. Já as animações realizadas tratam sobre o Círio de Nazaré e o cuidado com o dinheiro.
Frequentemente, ele publica tirinhas dos personagens na página da Turma do Açaí no Facebook, que tem mais de 26 mil seguidores. Nesta quarta, ele lança o novo gibi, "Ozeróis", uma nova versão da Turma do Açaí com os personagens Lamparina Verde, Bat-Açaí, Pequena Maravilha e outros, que deve se tornar um álbum de figurinhas e um jornalzinho infantil para ser distribuído nas escolas. O lançamento será na Escola Honorato Figueiras, no bairro da Cidade Velha.
"Estou há dez anos nessa praia, mas é difícil publicar porque é caro. Uma tiragem de mil revistas pode sair a R$ 3 mil. Tem que amar muito a profissão. Falta mais apoio do governo para a cultura dos quadrinhos. Fico 24 horas indo atrás de apoio. Faço vaquinha na internet. O que me anima são os fãs que ajudam. Veio um cara de São Paulo conhecer o meu trabalho. Mas vejo que ainda não temos espaços. Há anos mostro o meu trabalho no Centur", relata.
Para seguir na profissão ele destaca que são necessárias persistência e estudo. "Eu tinha muito gibi, li muito, fiz cursos, conheci outras pessoas do meio. Conheci pessoalmente o Mauricio de Souza e mostrei o meu trabalho, foi emocionante porque ele questionava porque não havia incentivo para os artistas daqui com tanta coisa (cultura regional) para mostrar. As pessoas lá fora valorizam mais a nossa cultura do que as daqui, infelizmente."
Joe Bennett, quadrinhista paraense de carreira internacional, é uma referência a muitos quadrinhistas. Conhecido pelos trabalhos realizados para a Marvel e a DC Comics, atualmente ele desenha o Incrível Hulk para a editora Marvel Comics, com sede em Nova York, mas reside em Ananindeua. "O conselho que sempre dou é nunca desistir, seguir sempre atrás dos objetivos e nunca deixarem de aprender. É uma profissão dura, que requer dedicação, mas que tem recompensas. Trabalhar com arte no Brasil é difícil, mas deve haver perseverança".
O Dia do Quadrinho Nacional celebra a data da publicação da primeira revista em quadrinhos do Brasil. O quadrinhista italiano radicado no país, Ângelo Agostini, começou a publicar os desenhos e charges criados por ele em 1867, no jornal Cabrião, da cidade de São Paulo.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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