Dos traços marajoaras às peças clássicas que tornam peças com a cara de Belém



Da tradicional arte marajoara no distrito de Icoaraci até a sofisticação das peças em exposição e venda no Espaço São José Liberto, os trabalhos artísticos manuais em Belém não param, seguem em constante produção e simbolizam a reinvenção e evolução da cidade no auge dos seus 403 anos. Há 24 anos trabalhando na Orla de Icoaraci, a artesã Socorro Abreu conta que conheceu a profissão por conta de uma amiga e sempre se impressionava com as possibilidades do trabalho manual. “Eu achava muito interesse o que era possível fazer, como de uma argila você conhece transformar em várias coisas. Depois de pronta, a peça é uma obra de arte. Você pega um barro e faz uma peça decorativa, utilitária”, conta.
Com um trabalho diferenciado baseado no beneficiamento da argila, a artesã conta que o processo um pouco mais longo do que o normal resulta em uma qualidade superior das peças. “Nosso artesanato tem um diferencial devido ao tratamento da argila. Ela é liquidificada e coada pra depois voltar a se solidificar. O resultado é um material sem pedrinhas ou raízes”, explica. “Além disso, nossa queima também é uma têmpora mais elevada. O que o forno aberto não alcança, o nosso alcança por ser fechado e isso reflete no produto final. O diferencial fica por conta do acabamento”, explica ela, que se especializou em peças utilitárias. “São peças pra serem usadas no dia-a-dia”, conta.
De acordo com a artesã, o cuidado durante o processo é percebido pelos clientes. “As pessoas percebem que nosso trabalho é diferente. As peças acabam sendo mais caras que as outras, mas os clientes chegam aqui e notam, elogiam o trabalho”, assegura Socorro, que sobrevive essencialmente do trabalho com a cerâmica marajoara, ofício que divide com o marido no Ateliê J.S. Cerâmica, na travessa da Soledade, em Icoaraci.
A cerca de 20 quilômetros dali, a designer de joias Celeste Heitmann trabalha o conceito das peças que, na maioria das vezes, retrata o cotidiano e ressalta as belezas da capital paraense. “Meu trabalho sempre foi inspirado e voltado para Belém e os ribeirinhos. Uso alguns itens da cidade, exploro a imagem do Ver-o-Peso, da Praça do Relógio, da Basília de Nazaré. Geralmente sempre estou focada em um monumento nosso, nas nossas plantas. Tenho muita joia em que me inspiro nas comunidades ribeirinhas, nas nossas lendas. Então, eu vou procurar entender tudo isso. Dificilmente você vai encontrar uma peça minha que seja inspirada em Rio, São Paulo ou Minas Gerais “, ressalta Celeste, que integra o quadro de artistas expositores no Pólo Joalheiro, no bairro do Jurunas, em Belém.

Com alma de paraense

A portuguesa apaixonada por Belém, como ela mesmo se caracteriza, chegou na capital paraense aos 13 anos e desde então se diz cada vez mais apaixonada pela cidade que a acolheu ainda na pré-adolescência e onde é casada com um mineiro e tem filhos e netos paraenses. A cidade também já lhe deu uma das máximas honrarias: a de confeccionar o manto da padroeira da Amazônia ao lado da estilista Khátia Novelino. “Ano passado, fui convidada a criar o manto de Nossa Senhora de Nazaré e fiquei muito emocionada”, ressalta orgulhosa.
A artista trabalha com designer de joias há 15 anos, e com pintura e confecção de bolsas há pelo menos 35 anos. “Eu já trabalhava com pintura e bolsas. Depois comecei a fazer a pintura dos quadros nas joias para usar nas bolsas e comecei a gostar do resultado. Com isso, comecei a brincar de criar conjuntos e gargantilhas e me apaixonei. Tem gente que vem pra Belém só pra comprar minhas peças. Recebo encomendas de outros países”, conta.



Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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