Livro sobre parcialidade das ciências e do Direito foi lançado quarta-feira 10/04 na Fox





A antiga discussão sobre necessidade de "imparcialidade" das ciências humanas sempre volta à tona sobre outras formas. A discussão interminável que divide filósofos e cientistas retornou novamente com acusações de que as ciências humanas são "parciais" e por isso não devem ser reconhecidas como ciências. Neste contexto o Direito, que integra as ciências humanas, também estaria envolto na discussão. Na busca em se aprofundar nesta questão o professor do Instituto de Ciências Juríticas (ICJ) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Ricardo Evandro Santos Martins, lançou o livro "Ciência do Direito e Hermenêutica", ontem, 10, na Livraria Fox. Em seu segundo livro publicado, o professor Ricardo Martins defende que as ciências humanas precisam se posicionar e serem claras sobre quais objetivos desejam atingir.
"As ciências humanas se tornaram um tipo de conhecimento com pretensões de neutralidade e descrição, o que tira a importância delas para a vida e para a política. Tem se discutido muito a questão das ideologias na Ciência do Direito, na Sociologia e mesmo na Filosofia. Tem se falado muito nesta questão de que as humanidades seriam ideológicas demais ou pouco técnicas, chegando, inclusive, a duvidar da sua cientificidade. Em verdade, uma das minhas hipóteses para as ciências humanas e do Direito é que esta neutralidade despolitizada e desconectada de alguma noção de bem comum e de um ethos de fundo geral, como eu disse, é uma ruptura com a vida prática", detalha.
O professor, que dá aulas no Programa de Pós-Graduação em Direito de UFPA e é membro do Grupo de Trabalho de Filosofia Hermenêutica da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof) acredita que entender a conexão das ciências humanas e do Direito com um posicionamento expande a discussão. "As ciências humanas são sempre ciências éticas e políticas. Elas precisam se posicionar. O que não quer dizer que isso não seja uma problemática, porque se precisa saber que ethos, política, e bem comum, é este que se quer reconectar", adianta.
O livro que está sendo lançado agora de Ricardo Martins continua com a discussão iniciada no seu primeiro livro "Ciência do Direito como Ciência Humana". "Esta discussão não é nova, já no século XIX o positivismo havia colocado em questão com Dilthey. Esta não é uma discussão nova o que eu proponho é a partir da hermenêutica filosófica de Gadamer. A implicação disso está na ideia de que a ciência do Direito produz um tipo de verdade mais próxima à noção de verossimilhança, ou seja, perde as pretensões de produzir uma verdade absoluta ou de uma verdade produto de uma descrição amoral e apolítica e técnica. Por outro lado ganha com um carácter retórico, o que isso significa que o conhecimento da ciência do Direito é um conhecimento produzido mais por uma comunidade acadêmica em constante discussão e reformulação das suas verdades de modo público colocando o conhecimento em termos de argumentos claros e persuasivos, que acima de tudo precisam ser convincentes", declara. 


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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