ABL surpreende com a decisão de não premiar poesia este ano



A decisão da Academia Brasileira de Letras (ABL) de não conceder seu prêmio de poesia neste ano surpreendeu o meio editorial. A notícia foi publicada pelo colunista Ancelmo Gois, sábado no jornal O Globo. Nenhum livro publicado ao longo de 2014 agradou à comissão julgadora da entidade. Atualmente, os imortais Ferreira Gullar, Alberto da Costa e Silva e Cleonice Berardinelli são responsáveis pelo parecer, que depois é submetido ao plenário da Academia. Pocurada, a ABL confirmou a informação, mas disse que o anúncio oficial dos prêmios só será feito depois desta quinta-feira, quando serão decididas outras categorias (são oito no total) que ainda estão em aberto. Os integrantes da comissão julgadora não quiseram se manifestar a respeito da notícia. O prêmio dá R$ 50 mil ao vencedor.
O poeta Eucanaã Ferraz, que publicou “Escuta” (Companhia das Letras) em 2015, ressalta que respeita a decisão, mas enumera algumas obras que poderiam ter sido contempladas. Para ele, livros como “Um teste de resistores” (7letras), de Marilia Garcia; “Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo” (Companhia das letras), de Paulo Scott; “Desalinho” (Cosac Naify), de Laura Liuzzi; e “O corpo no escuro” (Companhia das Letras), de Paulo Nunes, merecem destaque. “Sempre há livros bons de poesia”, diz Eucanaã. “Temos uma produção forte e constante no Brasil. é difícil que exista um ano em que um prêmio de poesia não pode ser concedido. É uma decisão radical.”
Silviano Santiago, que venceu em 2013 o Prêmio Machado de Assis (o mais importante concedido pela ABL, para o conjunto da obra), lembra que é preciso saber os detalhes que levaram à decisão: “Os três estão acima do bem e do mal. O fato de não terem premiado ninguém não quer dizer que não são capazes de perceber novas vozes. Precisamos saber a justificativa.”
No ano passado, o vencedor de poesia foi Gabriel Nascente, pelo livro “A biografia da cinza”. Além de poesia, a Academia dá prêmios às seguintes categorias: conjunto da obra (Machado de Assis); ficção; literatura infantojuvenil; história e ciências sociais; ensaio, crítica e história literária; tradução; e cinema. Ao todo, são distribuídos R$ 450 mil. Como já fora antecipado, o vencedor do Machado de Assis de 2015 é Rubem Fonseca, que irá receber R$ 100 mil (as demais categorias levam todas R$ 50 mil). O jornal O Globo também apurou que Bolívar Lamounier, com “Tribunos, profetas e sacerdotes - Intelectuais e ideologias no século XX” (Companhia das Letras), venceu como ensaio, crítica e história literária. E que Ana Miranda, com “Semíramis” (Companhia das Letras), levou o prêmio de ficção. A Academia não confirma.