Scalene mostra a sua personalidade em CD

Qual é o nome daquela banda de roqueiros arrumadinhos que virou sensação no “SuperStar”? A resposta pode ser Malta ou Scalene, mas acaba aí a semelhança entre o quarteto carioca vencedor da primeira edição do programa da TV Globo e o quarteto brasiliense que se destaca no segundo ano. Enquanto a Malta vai pelo hard rock romântico e pós-grunge tardio, o Scalene tem referências mais contemporâneas e menos populares no segundo disco, “Éter”.
De bandas que atualizam o peso, como Queens of the Stone Age e Mastodon, a outras que gostam de experimentar com melodia e ritmo, como o Radiohead, dá para ouvir o melhor do rock contemporâneo no Scalene. Isso não significa, porém, que não seja original. É uma personalidade sisuda, que poderia se levar um pouquinho menos a sério. Pelo menos fogem do comum e parecem saber o que querem com as guitarras na mão - e isso não é pouco.
A boa extensão vocal, costurando agudos e graves ao mesmo tempo, e o cuidado com as texturas de guitarras conduzem bem dos climas arrastados (“O peso da pena”) aos explosivos (“Fogo”). É o tipo de banda que, agora com público cativo, tem tom dramático que funciona para os grandes festivais - talvez se repetir a dose no próximo Lollapalooza.
Às vezes é difícil entender como uma banda que vai tanto para levadas mais quebradas e dissonâncias à Radiohead (“Furacão”) consegue destaque em um programa popular como “Superstar”. Por outro lado, o potencial de sucesso aparece em um “ô ô ô” aqui e ali (“Sublimação” e “Náufrago”) e num refrão mais imponente (“Fogo”).
O clima é sombrio, mas várias letras adotam a teoria “do fracasso surge algo bom”.(“É no furacão que surge a porta para um novo modo de pensar”; “Com o fogo vem a reconstrução do medo a solução”). Nessa busca pela catarse, lembram bandas mais novas que ainda conseguem fazer rock acessível, como Imagine Dragons e Bastille (aí talvez não por influência direta, mas por referências comuns).
Só irritam um pouco as letras muito etéreas, filosóficas, que às vezes parecem falar de tudo e nada ao mesmo tempo. Dá certo alívio quando descrevem algo mais palpável (“será o tal do Rivotril que me deixou tão mal assim?”, de “Gravidade”).
Para fazer as últimas comparações (juro!), o Scalene remete a inúmeras bandas brasileiras da década passada que tentaram fazer rock alternativo em linha parecida, com a mesma qualidade, mas que não foram muito longe - Gram, Violins, etc. O improvável efeito “SuperStar” pode mudar a história. Do fracasso surge algo bom.