Obra paraense em cena
“A Ceia dos Cardeais”, do compositor paraense Iberê de Lemos, estreia hoje, na igreja de Santo Alexandre, no centro histórico de Belém, pelo XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz, promovido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura do Pará (Secult). O espetáculo começa às 20 horas. “A Ceia dos Cardeais” terá mais duas récitas, nos dias 19 e 20, no mesmo horário. Os ingressos ainda podem ser adquiridos na bilheteria do Theatro da Paz, ao preço de R$ 30,00.
A ópera é escrita para três solistas, tenor, barítono e baixo, que representam três velhos cardeais reunidos – um espanhol, outro português e ainda um outro, francês - em uma ceia no Vaticano, ocasião que resolvem confidenciar, uns aos outros, seus amores juvenis, antes de decidirem-se pela carreira eclesiástica. Assim, cada episódio referido pelos personagens é identificado pela música e representação teatral, que tem como cenário a igreja de Santo Alexandre, que recebe assim, pela primeira vez, uma encenação de ópera.
Durante os relatos, os religiosos falam sobre assuntos do cotidiano, como a vida na igreja, a sucessão papal e, é claro, o amor. O espanhol Rufo, de 73 anos, é o mais exagerado ao relatar suas histórias de amor. O francês Montmorecy, de 60 anos, exalta as mulheres que já possuiu. O único que não foge da verdade é o português Gonzaga, de 81 anos, que revela ter entrado para a Igreja, após ter uma desilusão amorosa. A montagem promete emocionar o público.
Durante ensaio pré-geral na noite de domingo, dia 16, um dos personagens da ópera, o cardeal português Gonzaga, vivido pelo pelo baixo Carlos Eduardo Marcos, soltou a seguinte frase: “Como é diferente o amor em Portugal”. “Pode-se lá viver sem ter amado alguém!”, completou o baixo Carlos Eduardo Marcos, que, junto com o tenor Paulo Mandarino e o barítono Inácio de Nonno, representam os três cardeais da ópera. Já caracterizados com o figurino de cardeais, os cantores foram acompanhados durante o ensaio pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), regida pelo maestro Carlos Moreno, com direção cênica de Mauro Wrona. Além dos três cantores, a ópera conta com 16 figurantes e bailarinos. O figurino é assinado pelo paraense Hélio Alvarez.
Um dos maiores cuidados com o espetáculo foi o de que ele não interferisse na beleza arquitetônico da igreja de Santo Alexandre, e sua construção barroca. Alguns cuidados foram tomados como, por exemplo, fazer uma preparação na parede de fundo da área de recuo, onde a OSTP vai ficar colocada.
O outro cuidado foi com a iluminação. O responsável pela luz do espetáculo é o paulista Joyce Drummond. Com a experiência de ter feito a luz de títulos como o musical “O Grande Circo Místico”, de Chico Buarque e Edu Lobo, ele está bem à vontade com o trabalho desenvolvido. “Temos na igreja duas luzes. A luz expositiva já que a igreja é um museu também, e a luz cênico. Nosso empenho foi o de conjugar essas duas iluminações”, explica Drummond.
“A igreja já é um cenário natural belíssimo e buscamos valorizá-lo, para que ele fique mais lindo do que é. Tiramos proveito de algumas limitações que o espaço nos impôs, mas essas mesmas limitações nos ajudaram a criar esse ambiente que precisamos, para que as pessoas se sintam assistindo a esse momento íntimo na vida desses cardeais. E assim, buscamos a simplicidade de cada detalhe da igreja”, completou o iluminador.
Na estreia desta terça-feira, antes do espetáculo, o musicólogo Mauro Chantal fará a palestra “Da Criação, da Estreia. Do Esquecimento e do Resgate: a Ópera ‘A Ceia dos Cardeais” de Arthur Iberê de Lemos”, objeto de uma longa pesquisa feita por ele.
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