Fotógrafos falam sobre processo de produção em encontro no Arte Pará 2019


Os fotógrafos Elza Lima, Luiz Braga, Mariano Klautau Filho e Miguel Chikaoka falaram sobre os processos de produção durante os “Seminários Contemporâneos Deslendário Amazônico", promovido pelo Arte Pará 2019, no auditório da TV Liberal, no último sábado, 7. O evento foi mediado por Orlando Maneschy, curador do núcleo “Deslendário Amazônico - Paes Loureiro 80 anos”, do salão.
A linguagem poética da fotografia foi ressaltada por Elza Lima, que apresentou as fotografias feitas por ela em diferentes períodos da carreira, a partir dos anos 80, inclusive em terras indígenas, mostrando o modo de vida do homem amazônida em comunidades longínquas e a relação dele com os rios e os animais. "A poesia está em falta no mundo de hoje", disse.
Ela destacou as fotografias realizadas em viagem pelo rio Trombetas e também os problemas sociais e ambientais ocorridos em Tucuruí na formação do lago da hidrelétrica, que submergiu a floresta e expulsou moradores, causando doenças, poluição, desmatamento e exploração de mão-de-obra. "Foram surreais as imagens que encontrei". Ela finalizou a apresentação com o vídeo "Ismália", que traz uma sequência de fotografias de garças em pleno vôo, com destaque às asas, e ao final, uma mulher nua, semi-submersa em um lago, cuja superfície da água reflete as sombras de muitas aves planando no céu.
Já Mariano Klautau Filho - que está no salão deste ano com três fotografias da série "Amazonische Visualitit" - falou sobre a produção recente, desde 2008, com as séries fotográficas "Finisterra", "Depois do Fim" e "Transitivo", onde se inclui Amazonishce. "O salão fala de identidade amazônica. Eu faço o contradiscurso com duas cenas fora do Brasil (Holanda) que se remetem à selva, e outra daqui, do Marajó, para representar a natureza. Estou me contrapondo ao discurso que afirma uma ideia única de Amazônia. O trabalho joga com a ideia de que a identidade não é fixa, estável. A Amazônia extrapola as fronteiras do Brasil. Há muitos outros lugares da Amazônia que a gente não conhece. A identidade pode ser exótica, por isso, uso a linguagem estrangeira".
Luiz Braga falou da trajetória na fotografia, iniciada aos 17 anos de idade, e de como o curso superior de Arquitetura e Urbanismo lhe trouxe um novo olhar sobre a orla de Belém e as habitações coloridas e alegres dos ribeirinhos. "O ato de fotografar é o ato de descoberta e de prazer", resumiu. Na série "Periferia Ribeirinha de Belém- Paisagem e Resistência", que Luiz apresentou em data-show, ele exibiu o modo de vida dos ribeirinhos, a movimentação na humildes residências de madeira, nos bares e nos pontos de venda de açaí, os contrastes das cores vibrantes.
Já Miguel Chikaoka, que iniciou na fotografia nos Anos 70 e fixou residência em Belém na década seguinte, falou da experiência acumulada desde que trocou a carreira de engenheiro pela de fotógrafo. "O que move o ser humano?", questiona. Ele revela que, atualmente, fotografa pouco, apenas para a satisfação pessoal, pois decidiu trocar o mercado da fotografia pela dedicação ao ensino dessa arte. "Mais importante para mim, hoje, é ensinar e discutir sobre a fotografia", afirma, observando o maior entrosamento da imagem com o pensamento político e filosófico. Ele defende não pensar a fotografia apenas como imagem, mas como a expressão da associação de sentidos variados, como tato, ruídos e sabores. "A fotografia se produz do ser integrado, não só do olhar".
Ele lembra que a sociedade atual é muito ativada pela imagem e que é preciso ativar o "ser pleno" cultural e político para perceber o mundo através de todos os sentidos e possibilidades. "Com a facilidade de acesso a equipamentos para fotografar, precisamos questionar para quê se faz a foto? É preciso abrir os olhos para horizontes não necessariamente fotográficos".

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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