20 poetas brasileiros essenciais para conhecer a evolução da poesia
Vários dos poetas brasileiros estão entre os nomes mais respeitados da poesia no mundo. Desde a época dos descobrimentos os nossos conterrâneos produzem poesia, colocando em palavras sentimentos complexos e refletindo os contextos nacionais.
Do romantismo aos dias atuais, neste artigo apresentamos os 20 poetas essenciais para compreender a evolução da poesia no Brasil.
1. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
O mineiro Carlos Drummond de Andrade foi um expoente da segunda fase do modernismo no Brasil, que apresentava uma tensão ideológica, política e social.
Com versos marcados pela ironia, com formas diferentes e originais, Drummond leva o título de mais influente poeta brasileiro do século XX.
Um de seus textos mais famosos é a poesia No meio do caminho que marcou definitivamente a produção literária nacional:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Entenda melhor o estilo e a trajetória de Carlos Drummond de Andrade.
2. Manuel Bandeira (1886-1968)
Chegamos na primeira fase do modernismo com o pernambucano Manuel Bandeira que teve o seu poema "Os sapos" sendo lido na abertura da Semana de Arte Moderna de 1922.
Os modernistas prezavam uma poesia irreverente, livre de métricas e regras e baseada em um humor nacionalista. Bandeira é até hoje um dos poetas brasileiros mais lembrados dessa fase da literatura brasileira. Vou-me Embora pra Pasárgada está entre as suas poesias mais conhecidas, relembre o trecho inicial do poema:
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
Saiba mais sobre a biografia de Manuel Bandeira.
3. Vinicius de Moraes (1913-1980)
O carioca Vinicius de Moraes foi um dos maiores poetas e compositores da literatura e da música brasileira e se consagrou, principalmente, pelos seus versos de amor.
Diplomata de profissão, Vinicius de Moraes ficou eternizado pelos poemas apaixonados, mas também pela denúncia de problemas políticos e sociais (nacionais e internacionais) e pela escrita voltada para crianças.
Um dos poemas mais conhecidos do poetinha é o Soneto de fidelidade:
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Leia a biografia completa de Vinicius de Moraes.
4. Cecília Meireles (1901-1964)
Cecília Meireles foi um dos grandes nomes da segunda fase do modernismo no Brasil. Ela é uma das primeiras autoras reconhecidas da literatura brasileira.
Os seus escritos eram espiritualistas e mais psicológicos. Dos mais de quarenta e cinco anos de produção poética, Romanceiro da Inconfidência (1953) é a sua coletânea poética mais elogiada. Relembre a passagem inicial da criação:
Na?o posso mover meus passos, por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e o?dios va?o:
- pois sinto bater os sinos,
percebo o roc?ar das rezas,
vejo o arrepio da morte,
a? voz da condenac?a?o;
- avisto a negra masmorra
e a sombra do carcereiro
que transita sobre angu?stias,
com chaves no corac?a?o;
- descubro as altas madeiras
do excessivo cadafalso
e, por muros e janelas,
o pasmo da multida?o.
Leia mais sobre o extenso trabalho da poetisa Cecília Meireles.
5. Mario Quintana (1906-1994)
O poeta gaúcho Mario Quintana ficou conhecido pela sua poesia do cotidiano, da singeleza, da delicadeza, que estabeleceu uma proximidade com o leitor.
Apesar da aparente simplicidade, os seus versos, profundos, foram celebrados com o Prêmio Machado de Assis (da Academia Brasileira de Letras) e com o Prêmio Jabuti.
Além de poeta, Quintana também foi tradutor e jornalista. Um dos seus poemas mais famosos é Seiscentos e sessenta e seis:
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo
Quando se vê, já é 6ª-feira
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado
E se me dessem um dia uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Descubra a biografia completa de Mario Quintana.
6. Cora Coralina (1889-1985)
Nascida em Goiás, Ana Lins dos Guimarães Peixoto (conhecida no meio literário como Cora Coralina) começou a publicar apenas aos 76 anos.
Com pouca educação formal, a escritora frequentou a escola somente até a terceira série do curso primário. Para se sustentar foi doceira e, nos tempos livres, escreveu poemas.
A sua poesia é marcada pelo tom informal e pela relação de cumplicidade que estabelece com o leitor.
Os seus versos giram em torno do cotidiano e das experiências de vida que procura transmitir através da poesia, como é possível comprovar através do poema Assim eu vejo a vida:
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Saiba mais sobre o percurso de Cora Coralina.
7. Ferreira Gullar (1930-2016)
Um dos grandes nomes da poesia concreta brasileira, o maranhense Ferreira Gullar recebeu o importante Prêmio Camões em 2010 e, quatro anos mais tarde, se elegeu membro da Academia Brasileira de Letras.
Os seus versos, engajados, foram fundamentais para denunciarem a situação política e social brasileira.
O Poema sujo, escrito enquanto estava exilado em Buenos Aires durante a ditadura militar, é a sua produção poética mais conhecida, relembre o trecho abaixo:
enquanto vou entre automóveis e ônibus
entre vitrinas de roupas
nas livrarias
nos bares
tic tac tic tac
pulsando há 45 anos
esse coração oculto
pulsando no meio da noite, da neve, da chuva
debaixo da capa, do paletó, da camisa
debaixo da pele, da carne,
combatente clandestino aliado da classe operária
meu coração de menino
Fique a par da biografia completa de Ferreira Gullar.
8. Adélia Prado (1935)
A mineira Adélia Prado escolheu criar uma poética voltada para o dia-a-dia, com uma escrita despojada e informal, como se os versos replicassem uma espécie de conversa intimista.
A jovem começou a escrever poemas em 1950, depois da morte da mãe. Professora, o hobby da escrita a acompanhou ao longo dos anos.
Profissionalmente o padrinho de Adélia Prado foi ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade. Contando com a sua ajuda na fase inicial da carreira, Adélia Prado começou a ficar conhecida pelo grande público e, desde então, não parou mais de produzir.
Momento
Enquanto eu fiquei alegre,
permaneceram um bule azul com um descascado no bico,
uma garrafa de pimenta pelo meio,
um latido e um céu limpidíssimo
com recém-feitas estrelas.
Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,
constituindo o mundo pra mim, anteparo
para o que foi um acometimento:
súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.
Admire a biografia completa de Adélia Prado.
9. Gregório de Matos (1636-1695)
O escritor foi o maior representante da poesia barroca brasileira, em vigor ainda na época do Brasil-Colônia.
Gregório nasceu em Salvador, Bahia, filho de pai português e mãe brasileira. Foi odiado e perseguido pela sociedade brasileira pelas corajosas críticas sociais que fazia.
O poeta ficou conhecido como "Boca do Inferno" pois os seus poemas satirizavam a sociedade da época, o costume dos povos e a Igreja Católica. Observe como exemplo o poema À cidade da Bahia:
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Oeste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Quer saber mais? Leia a biografia completa de Gregório de Matos.
10. Machado de Assis (1839-1908)
Representante do realismo brasileiro, Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro e tornou-se o principal nome da literatura nacional. Os seus poemas tinham uma vertente de combate social, crítica à burguesia, e análise psicológica dos personagens. Machado foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e publicou nada menos que cinco coletâneas de poemas e sonetos.
Mundo interior
Ouço que a Natureza é uma lauda eterna
De pompa, de fulgor, de movimento e lida,
Uma escala de luz, uma escala de vida
De sol à ínfima luzerna.
Ouço que a natureza, a natureza externa,
Tem o olhar que namora, e o gesto que intimida
Feiticeira que ceva uma hidra de Lerna
Entre as flores da bela Armida.
E contudo, se fecho os olhos, e mergulho
Dentro em mim, vejo à luz de outro sol, outro abismo
Em que um mundo mais vasto, armado de outro orgulho
Rola a vida imortal e o eterno cataclismo,
E, como o outro, guarda em seu âmbito enorme,
Um segredo que atrai, que desafia e dorme.
Se você tem interesse em saber mais do mestre da literatura nacional, leia a biografia completa de Machado de Assis.
11. Hilda Hilst (1930 - 2004)
A paulistana Hilda Hilst é considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, tendo produzido textos por mais de cinquenta anos. Hilda dizia que o seu trabalho buscava representar a difícil relação entre Deus e o homem.
Mais de vinte livros de poesia de Hilda foram publicados. A autora também recebeu os principais prêmios nacionais de literatura como o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1977) e o Prêmio Jabuti (1984)
O seu livro de poesias "Cantares de perda e predileção" (1983) é indispensável para quem gosta de produções poéticas.
Conheça um pouco do trabalho da escritora através do poema Árias pequenas. Para bandolim:
Antes que o mundo acabe, Túlio,
Deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso. E ao meu lado
Te fazes árabe, me faço israelita
E nos cobrimos de beijos
E de flores
Antes que o mundo se acabe
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
Conheça a biografia de Hilda Hilst.
12. João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
O pernambucano é um dos nomes de destaque da terceira geração do modernismo, pois inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil, com o concretismo. A escrita de Melo Neto, o poeta de poucas palavras, era marcada por versos capazes de aguçar sensações.
A sua principal obra, Morte e Vida Severina (1955) conta a história de um retirante nordestino em busca de uma vida melhor na capital pernambucana, e até hoje rende adaptações e estudos na área cultural.
O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria; (...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra
Saiba mais sobre a poesia revolucionária de João Cabral de Melo Neto.
13. Paulo Leminski (1944-1989)
O curitibano Leminski ainda não é encaixado em nenhuma vertente poética, apesar de serem claros os traços de modernismo na sua forma livre e criativa de escrever.
Herdeiro da poesia concretista, sua obra conta com mais de quinze livros publicados, cheio de jogos de palavras, recursos visuais e outros. Leminski também fez muitos trabalhos como letrista de MPB, o que teve influência sobre sua obra.
Um dos poemas mais conhecidos do escritor é Incenso fosse música:
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente e?
ainda vai
nos levar além
Quer saber mais sobre a "obra maldita" desse poeta fora da caixa? Leia a sua biografia de Paulo Leminski.
14. Ariano Suassuna (1927 - 2014)
Apesar de ter vivido na mesma época que vários dos poetas modernistas, Suassuna aparece nesta lista por ser um caso à parte na história da literatura brasileira.
A valorização da cultura nordestina e de movimentos populares foi o objetivo desse paraibano bem humorado. Sete dos seus quase trinta livros são de poesia, que fazem jus à nossa rica cultura popular.
Infância (trecho)
Sem lei nem Rei, me vi arremessado
bem menino a um Planalto pedregoso.
Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,
vi o mundo rugir. Tigre maldoso.
O cantar do Sertão, Rifle apontado,
vinha malhar seu Corpo furioso.
Era o Canto demente, sufocado,
rugido nos Caminhos sem repouso.
Saiba mais sobre o criador do épico "O Auto da Compadecida" através de leitura da biografia de Ariano Suassuna.
15. Conceição Evaristo (1946)
A mineira Conceição Evaristo nasceu e cresceu em uma favela de Belo Horizonte. Apenas depois de conseguir se formar em letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro é que passou a divulgar o seu trabalho como escritora.
Vencedora de um Prêmio Jabuti, Conceição é um dos nomes mais fortes da escrita sobre a vivência afro-brasileira, sendo sempre lembrada e requisitada a falar da causa em meios literários e outros.
Seu livro "Poemas da recordação e outros movimentos" (2017) é indispensável para entender questões como a tensão racial no Brasil, questões de gênero e classe.
Um dos poemas mais consagrados da autora é Eu-Mulher, cujo trecho se encontra reproduzido abaixo:
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Saiba mais sobre a poesia de Conceição Evaristo.
16. Castro Alves (1847-1871)
Nascido em Salvador, Bahia, Castro Alves foi o principal nome da terceira fase do romantismo brasileiro, onde a temática girava em torno da abolição da escravidão e da república.
Conhecido como "Poeta dos Escravos", foi frequentando saraus e festas artísticas que escreveu vários dos seus belos poemas líricos, incluindo "O Navio Negreiro" (1880), a sua mais famosa obra. Relembre os versos iniciais da criação:
Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
Constelações do líquido tesouro...
Saiba mais sobre a vertente social e revolucionária dos poemas de Castro Alves.
17. Olavo Bilac (1865-1918)
O carioca Olavo Bilac é o principal nome da poesia parnasiana brasileira, corrente preocupada com um vocabulário nobre e uma precisão impecável.
Bilac também foi um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, escreveu muitas poesias infantis e um de seus textos mais famosos é "Profissão de Fé" (1888), onde compara poetas a ourives, que trabalham detalhadamente a sua joia.
Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
Que outro não eu! a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.
Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
Quer saber mais? Leia a biografia completa de Olavo Bilac.
18. Gonçalves Dias (1823-1864)
Foi o principal nome da primeira geração do romantismo brasileiro, que se preocupava com a expressão dos sentimentos, e prezava por uma escrita que tinha um tom de fuga da realidade e nacionalismo.
Produziu a maior parte das suas obras quando esteve em formação acadêmica em Portugal. A sua principal poesia é Canção do Exílio (1846), um dos poemas mais conhecidos da nossa literatura nacional:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem quinda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Leia mais sobre Gonçalves Dias.
19. Augusto dos Anjos (1884-1914)
Paraibano que escrevia poemas desde os sete anos de idade, Augusto dos Anjos é considerado o principal nome do pré-modernismo, que incorporava em suas palavras a realidade brasileira. Expressava uma certa obsessão pela morte e o livro que reúne toda a sua obra poética, chamado "Eu e outros poemas" chocou a sociedade em 1912 sendo considerado de mau gosto. A obra tinha um vocabulário estranho e que não se encaixava em nenhuma corrente literária específica.
Por isso até hoje seu livro é estudado como sendo um dos mais originais produzidos pela literatura brasileira e de grande valia para a ciência das letras.
Versos íntimos é das suas composições mais conhecidas:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão esta pantera
Foi tua companheira inseparável!Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Leia mais sobre Augusto dos Anjos.
20. Mel Duarte (1988)
Uma jovem que entra nessa lista como representante de uma nova literatura brasileira que tem ganhado força através de chamados saraus, slams e afins. Mel possui dois livros de poesia publicados, foi destaque na abertura da FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty) em 2016 e representante da literatura brasileira em um festival angolano.
Seus versos falam da realidade do povo periférico brasileiro, da vivência de mulheres, pessoas negras e também de política, além de outros temas. Descubra o trecho inicial do poema Minha condição:
Eu não escrevo pra incendiar casas
mas pra ascender faíscas aos olhos de quem me lê
não escrevo pra matar a fome de multidões
mas espero que minhas palavras preencham um vazio que te ajude a se manter de pé
não escrevo pra governar um povo
eu ouço o que ele diz e utilizo minha voz para propagar sua mensagem
não escrevo pra obter a sua aprovação
mas pra registrar minha trajetória e de tantas mulheres negras que já foram silenciadas.
Edição: Alek Brandão
Fonte: Ebiografia (texto e imagens).
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