Dia Mundial da Poesia: como a pandemia influencia artistas paraenses

 João de Jesus Paes Loureiro passou a enviar áudios com poemas autorais declamados. Carla Vianna e Juraci Siqueira compilam a produção da quarentena em livros.

Claudio Pinheiro

No Dia Mundial da Poesia, celebrado neste domingo, 21, artistas paraenses comentam sobre a produção durante a pandemia pela Covid-19. O filósofo, escritor e poeta João de Jesus Paes Loureiro, referência no assunto, há um ano criou a rotina de enviar a poetas e admiradores áudios declamando poesias autorais, todas as sextas-feiras, elo Whatsapp. As novas inspirações, que, por vezes ganham nuances tristes, mas também revelam o tom humorístico, levaram Carla Vianna e Juraci Siqueira a produzirem livros nessa fase conturbada da história mundial.

“Fui fortalecido, creio, a trazer esse momento de poesia. Isso me deu uma emoção grande e me fez ficar sempre agarrado com o poema. Apesar e ser um poema semanal, não significa de improviso. Posso arregimentar para eles toda uma experiência e trabalhar e retrabalhar na condição de dedicação integral à poesia, sobretudo nessa fase”, descreve Paes Loureiro. Essa rotina semanal formou uma espécie de círculo de poetas no momento em que os artistas deixaram de se reunir em recitais, saraus e lançamentos de livros.

“Tempo de Falsídia” foi o mais recente poema de Loureiro, que chegou a anunciar uma pausa no envio dos áudios, o que causou o descontentamento de alguns. Diz trecho: “Chovia que chovia. Anoiteceu. A televisão e o celular levam-me a pensar nosso contexto. À beira de um abismo, a esfinge covídica tem fome insaciável a devorar pessoas, se não a decifrar-nos. Não podemos negá-la. O que é não pode deixar de ser”.

Carla ViannaCarla Vianna (Divulgação)

“As poesias dele refletem as vivências que as pessoas estão tendo durante a pandemia. Foi uma experiência muito diferente, transformar o momento de pandemia”, comenta a jornalista, escritora e poeta Carla Vianna.

Ela pretende lançar um livro impresso com os poemas feitos durante a quarentena. Entre eles, está “O Tempo”: “Ver o medo/ Viver com ele/ Voltar ao início/ Ver meu passado/ Voltar o ontem/ Visceralmente inquieta/ Vociferar minhas entranhas/ Vencer lutas antigas/ Vejo o que passou em meu Rio/ Venho quieta e desligo a Lua/ Voltei e apaguei meu sorriso/ Hoje caminho em ruas reconstruídas/ Meus passos seguem o sol/ Posso sorrir novamente/ A história marcando seu tempo".

Antônio Juraci Siqueira tem no folclore amazônico sua principal fonte de inspiraçãoAntônio Juraci Siqueira (Marcelo Seabra/ Arquivo O Liberal)

O professor, poeta, cordelista e escritor Antônio Juraci Siqueira publica diariamente na página que possui no Facebook. Com os poemas escritos durante a pandemia, em 2020, ele lançou o livro “Nas Garras da Pandemia”. A publicação, que está à venda com o autor, é dividida em duas partes: a primeira tem o viés de humor com mensagens educativas para a prevenção da Covid-19, é assinada por ‘Inocêncio Carrapato, o Poeta do Mato’, heterônimo dele, a segunda parte, assinada pelo autor, traz poemas e trovas expondo a visão filosófica e lírica do autor sobre a pandemia.

Em um dos poemas do novo livro, “Ixe Negoço da China”, ele brinca: “E eu aqui no meu cantinho/ só iscuitando o baruio/ já num saio mai dé casa/ cum medo dixe baguio!/ Cabuco discunfiado/ butei as barba dé muio!” Antes de “Nas Garras”, ele publicou mais três livros de poesia na quarentena e prepara o lançamento do infanto-juvenil “O devorador de Metáforas”.




Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagens).

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