Artista paraense debate as consequências do colonialismo ao traçar paralelo entre Portugal e Pará

 Videoperformance “De uma Belém a outra” é resultado das experiências vividas em um intercâmbio

Arces

Viseu, Bragança, Alenquer, Santarém e a capital, Belém, são algumas das cidades paraenses que foram batizadas em homenagem a regiões de Portugal e são fortes evidências de como as marcas da colonização ainda se fazem presenteS em nossas vidas. Quando saiu da Belém brasileira para estudar na portuguesa, o jovem artista paraense Maurício Igor percebeu que, para parte do povo europeu, o suposto “descobrimento” trouxe apenas benefícios para os povos que foram explorados. Desse sentimento, nasceu o projeto de videoperformance “De uma Belém a Outra”, que vai ao ar a partir de sexta-feira (26) nas plataformas da Uncool Artist, canal estadunidense-brasileiro de artistas independentes.

Quando ainda estudava artes visuais na Universidade Federal do Pará (UFPA), Maurício conquistou uma bolsa para estudar um semestre na Faculdade de Belas Artes na Universidade do Porto, em Portugal, e lá, teve esse choque ao andar pelas ruas e ver e ouvir a glorificação do processo colonizador. Isso o marcou profundamente, pois, segundo o título de um dos primeiros trabalhos que ele fez no Porto, “como descobrir o que não é desconhecido?”. 

“Nas primeiras semanas que eu cheguei em Portugal, eu escutei, em mais de um contexto, que Portugal ‘descobriu’ o Brasil. Isso ficou na minha cabeça. Com o passar do tempo, eu fui vendo que esse passado colonial ainda era refletido de forma muito forte na vida dos imigrantes de países que foram colônias. A partir desse incômodo, e com base em outras frases como ‘o Brasil tinha que agradecer Portugal porque foi um bom colonizador’, eu comecei a me questonar sobre esse orgulho nacionalista”, conta Maurício.

De acordo com o paraense, “ser de um país que historicamente foi colonizado é ser visto com olhar de inferioridade. Por isso, direciono minha produção artística de forma a ver criticamente a formação e construção do Brasil e como estas configurações afetam nossos corpos hoje”. Maurício também conta que, de todas as experiências que viveu em terras lusitanas, uma das que mais fez sua pele negra e amazônida arder foi se deparar com o monumento Padrão dos Descobrimentos, erguido em Lisboa. Com 50 metros de altura, o símbolo homenageia personagens do processo de expansão marítima de Portugal nos séculos 15 e 16, como Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama. 

Performando em frente ao monumento, a obra “De Uma Belém a Outra” problematiza temas como racismo, xenofobia e colonialismo. Maurício contou com o apoio do artista pernambucano Dori Nigro, responsável pelas filmagens e produção da performance. “Eu me assustei assim que eu vi, por ser muito grande e não colocar o contexto de outros pontos de vista. É o que eu quero trazer com o meu trabalho: falar de como esses monumentos que homenageiam figuras colonialistas atuam na sociedade hoje como forma de manter esse orgulho colonial, e afetam a vida dos imigrantes, sem abordar esse passado sangrento da forma que deveria”, finaliza o artista. 


SERVIÇO

Exposição “De uma Belém a outra”

Estreia 26 de março, às 20h (Brasil); 23h (Portugal)

Transmissão ao público através do site uncoolarts.com/clube-da-uncool




Edição: Alek Brandão
Fonte: O Liberal (texto e imagem).

Um comentário: