Arte Pará: Nayara Jinknss propõe enxergar o real através das lentes do imaginário


Além da arte contemporânea produzida por paraenses, este ano o salão Arte Pará também se mostra como uma vitrine de novos artistas, uma geração interessada em compartilhar com o mundo suas leituras de realidade. Esses olhares se mesclam a experiência de outros artistas, em duas mostras, que seguem ocupando o Museu da Universidade Federal do Pará e Museu do Estado do Pará.
A fotógrafa Nayara Jinknss, conhecida pelo olhar sensível que busca quebrar estereótipos, tem trabalhos nas duas exposições da mostra este ano. Em “Deslendário Amazônico”, que homenageia os 80 anos de João de Jesus Paes Loureiro, no MEP; Jinknss expõe a série “Cobra Grande da Sé”. São três fotografias feitas no centro de Belém, no período de alta das marés.
“Eu precisava investigar isso, ver de perto como é, porque existe todo um imaginário em cima disso, e toda uma história que é reproduzida e que a gente acredita também, assim como a Matinta ou a Saracura”, relembra sobre a vontade de fotografar no período. “Quando eu vi aquele rapaz que está fazendo a foto, foi inevitável não lembrar da Cobra Grande, porque quando eu cheguei ele já estava tomando banho. Parece que as vezes eu vou ao encontro dessas histórias, eu me permito acreditar nelas e me permito ver que elas podem se desdobrar de várias maneiras”.
Foto da série "A Cobra Grande da Sé"Foto da série "A Cobra Grande da Sé" (Nayara Jinknss)
Com uma produção intensa na fotografia, Jinknss também se dedica a um trabalho de fotografar o dia a dia do Mercado Ver-o-Peso. Ela considera necessário que o povo nortista seja narrador de suas próprias histórias, em vez do olhar colonizador e estereotipador.
“Acho que é necessário a gente criar narrativas onde os paraenses possam se orgulhar, orgulhar das suas histórias, orgulhar das Matintas que estão presentes. Quem são as nossas Matintas, onde elas estão? Quem são as Cobras da Sé que existem em Belém? É preciso pensar nessas novas provocações”, indaga.
A fotógrafa também integra a mostra “As Amazonas do Pará”, no Museu da UFPA. No local, Jinkss exibe as fotografias “Dona Angélica, Samauma antiga da Amazônia” e “Cor e Traço da Amazônia Rural”, ambas de 2018; além do vídeo “4ª Marcha das Mulheres Negras - Mães Negras Amazônidas em luta contra o genocídio negro”.
A obra "Dona Angélica, Samauma antiga da Amazônia” compõe a exposição do Museu da UFPAA obra "Dona Angélica, Samauma antiga da Amazônia” compõe a exposição do Museu da UFPA (Nayara Jinknss)
Ela relembra que as fotografias foram feitas enquanto ela participava de um projeto chamado Street River, onde artistas realizavam intervenções visuais em casas da Ilha do Combu. Jinknss diz que traz as fotografias à mostra também como forma de protesto, já que passou a ter outra visão sobre o projeto.
“A Dona Angélica é a moradora mais antiga do Combu, então eu gostaria de falar disso, de falar um pouco dela. É um pouco doido porque as pessoas geralmente fotografam a gente, e eu sempre bato muito nessa tecla, de como a gente é documentado pelo outro. As vezes, pelo outro não ter afinidade nenhuma com a gente, documenta de qualquer maneira”, destaca.
“As imagens foram feitas num período que eu trabalhava no Street River. Na época eu tinha uma opinião sobre o projeto, e hoje em dia eu vejo como um projeto extremamente de cunho colonizador, que invisibiliza os artistas daqui, se apropria mesmo das residências das pessoas, levando uma arte que não deveria levar[...]. Eu percebi que eles não precisam dessa arte”, descreve Jinknss.
Agende-se:
Projeto Arte Pará
Exposição: até 22/12.
Locais: “Deslendário Amazônico” - Museu do Estado do Pará (MEP) - Praça Dom Pedro II, s/n - Cidade Velha.
“As Amazonas do Pará”  - Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) – Avenida José Malcher, 1192 - Nazaré.
Realização: Fundação Romulo Maiorana
Patrocínio: Vale e Faculdade Fibra.
Colaboração: SOL Informática e O Liberal na Escola.
https://www.artepara2019.org

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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