O grito pela Amazônia nas fotos de Elza Lima



O salão de arte contemporânea Arte Pará segue aberto a visitações. Este ano, sob o eixo “Malhas Afetivas”, a mostra se divide em dois espaços: o Museu do Estado do Pará (MEP), com a exposição “Deslendário Amazônico”; e o Museu da UFPA, com “As Amazonas do Pará”.
A fotógrafa Elza Lima é uma das artistas que participa das duas mostras. No MEP, que sedia a exposição que homenageia os 80 anos do poeta João de Jesus Paes Loureiro, ela exibe três obras, todas em formato de tríptico.
Uma delas é “Eu não sou dono da terra, sou terra”, que mostra um índio junto a um passarinho em seus ombros. O trabalho foi realizado em parceria com P. P. Conduru, que coloriu o pássaro em cima da fotografia, que originalmente é em preto e branco.
“Ele usou pigmentos naturais, e essa minha obra enfatiza a vulnerabilidade indígena que nós estamos atravessando a bastante tempo, e que ficou muito acirrada com esse novo presidente. É dando um alerta para mostrar a interação do índio com a terra”, explica Elza.
Quando a água, origem da vida, vira sinônimo de morteQuando a água, origem da vida, vira sinônimo de morte (Elza Lima)
Ela exibe mais duas obras na mostra. “Extrínseca Paisagem” retrata o alagamento da floresta, para a construção da usina de Tucuruí. “Isso é meu clamor, para que as pessoas se conscientizem”, diz. “Eu trabalho há 35 anos coletando imagens na Amazônia, foi meu grito de socorro para tudo o que está acontecendo: as queimadas, a retirada dos indígenas das terras…”, conta.
A terceira obra Elza descreve como uma homenagem a João de Jesus Paes Loureiro. O tríptico se chama “Ícaro”, e mostra uma menina colocando asas de galinhas d’angola sobre o peito. As fotos foram feitas por Elza nos anos 80, na Ilha do Marajó, e mostram diferentes perspectivas da menina. Impressas em vidro, na mostra elas podem ser vistas sob a incidência de uma luz vermelha. “Eu trabalhei 32 anos na secretaria de cultura do estado, e o primeiro secretário que me chamou foi o Paes Loureiro. Ele me colocou asas pra eu voar pela Amazônia”, relembra Elza.
A bela gente ribeirinhaA bela gente ribeirinha diante a floresta queimada (Elza Lima)
A fotógrafa também participa da mostra “As Amazonas do Pará”, no Museu da UFPA, onde exibe o trabalho “Habitar água, enquanto a terra arde”. O tríptico mostra uma mulher e uma criança dentro da água, ao lado de outras fotografias de uma floresta em chamas.
Com trabalhos que conversam diretamente com as situações enfrentadas atualmente pela floresta amazônica e seus povos, Elza, que mostra a Amazônia desde o início da carreira, diz que não consegue pensar em outra coisa. “Estou completamente desolada. Não tenho nem coragem de voltar lá. O que tenho visto é tão deprimente e toca tanto minha alma. Eu vi há 35 anos uma amazônia inteira, e acho que entro em depressão agora. É uma coisa tão importante para nossa sobrevivência, e tão enraizada nas minhas imagens. Acho que a única coisa que posso fazer é gritar”, enfatiza Elza.

Agende-se:
Salão Arte Pará
Exposição: até 22/12.
Locais:
“Deslendário Amazônico” - Museu do Estado do Pará (MEP) - Praça Dom Pedro II, s/n - Cidade Velha.
“As Amazonas do Pará”  - Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) – Avenida José Malcher, 1192 - Nazaré.
Realização: Fundação Romulo Maiorana
Patrocínio: Vale e Faculdade Fibra.
Colaboração: SOL Informática e O Liberal na Escola.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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