Carga Viva: a produção de performance do Pará para o mundo



"Carga Viva" é um trabalho elaborado por professores e alunos da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará

A potente arte da performance do Pará ganha mais um salto com o projeto "Carga Viva", um trabalho elaborado por professores e alunos da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará com a ideia de divulgar e teorizar os trabalhos nascidos na academia. Para conhecer os dez primeiros trabalhos expostos é só acessar este link.
A professora Karine Jansen, coordenadora do projeto, explicou que a criação da plataforma digital é um desejo antigo, já que vem colecionando ao longo de dez anos com a disciplina "Performance" trabalhos de qualidade e de grande potência. "Todos os anos no final da disciplina os alunos criam uma performance e sempre são trabalhos muito bons e extraordinários. Sempre tive essa vontade de levar esses trabalhos para outros lugares", explicou a professora.
Em decorrência do isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus, a docente disse que viu o momento como grande oportunidade, já que encontrou um tempo disponível para se dedicar ao projeto. Karen juntamente com Raphael Andrade, Claudia Gomes e Larissa Latif se uniram e deram início ao trabalho de coleta e organização da plataforma.
"Ficamos trabalhando durante três meses de modo virtual fazendo todo o trabalho de elaboração da plataforma e coleta dos trabalhos", acrescentou a docente.
Com a plataforma "Carga Viva" criada servirá de palco para as performances elaboradas pelos alunos. Alguns dos critérios de escolha para a entrada na plataforma inclui a relevância do tema, a abordagem que o artista deu ao trabalho e a divulgação.
Leandro Haick é um dos artistas que tem a performance divulgada na plataforma. Ele é autor de “A Flor Manifesto”, um trabalho elaborado em 2011 que tem o propósito de provocar na sociedade a discussão sobre religiosidade, identidades e sexualidade. A manifestação do artista foi feita com seu corpo nu vestido com pétalas de papel, onde em cada pétala foi preenchida com um trecho do poema “Estatuto do Homem” do escritor Thiago Melo.
Ao meio-dia de uma segunda-feira de 2011 o artista fez o trajeto de Nossa Senhora de Nazaré, da Igreja da Sé até a Basílica de Nossa senhora de Nazaré. “Nesse trecho eu fui oferecendo as pétalas para as pessoas que transitavam. Das 70 pétalas que cobriam o meu corpo, consegui entregar sete”, disse o artista.
Leandro explica ainda que a performance discute corpos que são colocados a margem da sociedade, são invisibilidades. Ele explica que é comum um ser sensível ser visto com maus olhos, mas para o artista, a arte também é feita p causar o choque e sacudir a sociedade.
Ao final do trajeto, as pétalas que restaram foram deixadas na Praça Santuário.
Raphael Andrade é autor de “Flores para Pietá”, que de forma sintética se trata de um homem vestido de Nossa Senhora com cristo simbolizando nos braços de Maria, o qual simboliza os LGBTQIs mortos pela sociedade assim como Jesus foi morto.
“A performance fala do corpo profano, como se fosse uma aberração, algo que vai de encontro ao sagrado. Em um pais que mais mata LGBTQI no mundo é uma afronta para estar nesses locais. Pois as pessoas querem exercer poder sobre nossos corpos”, explica o artista.
Ele fez a performance em Belém. Portugal, Roma e França e nos lugares por onde passou algumas pessoas entenderam, outras debocham e riram. “O que eu percebi e que a reação mudou de cultura para outra. Fui expulso de alguns locais e debochados em outros. Essa performance vem para confortar socialmente, culturalmente e artisticamente”, destaca o artista.
O trabalho “Gordosangria” de Ana Paula Negrão, André Reis, Diego Leal e Bruno Sousa faz uma reflexão sobre a “Gordofobia”, marcada pela intolerância e preconceito contra as pessoas gordas. “O título Gordosangria é uma referência à palavra gordofobia, um ato praticado por alguém, e gordosangria é a reação que o alvo deste ato tem ao se deparar com ele. Para toda “fobia” de alguém, existe a “sangria” do seu alvo”, destaca a apresentação do trabalho.
Karine Jansen explica que a performance é um movimento artístico que trabalha com uma linguagem híbrida e que também é um campo de estudo teórico. “Considero uma atividade humana permeada de significados tanto como uma expressão artística, mas também como ações cotidianas ou rituais”, destaca a professora.
Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)


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