Artista aborda invisibilização e violência contra travestis em vídeo-performance


Desde 2008, Rafael Matheus Monteiro desenvolve um trabalho em defesa da população LGBTQIA+


Um registro um tanto quanto visceral em que um corpo quase totalmente nu faz pano de fundo para o relato da travesti Poliane - em meio ao uso da tinta vermelha como representação de um sangue fruto da violência - é a tônica da vídeo-performance "Tinta Sobre Pele", de Rafael Matheus Monteiro. O artista, que é travesti, mas não se importa em ser tratado com pronomes masculinos ou femininos, disponibilizou um pouco do trabalho que desenvolve na luta pela população LGBTQIA+ em seu perfil no Instagram.No vídeo, em que por vezes aparece com a obra "Era um Diva" nas mãos, Rafael Matheus conta a história de dor e superação de Poliane pelas esquinas da rodovia BR-316. Na difícil vida na prostituição, a travesti conta como enfrentou violências das mais diversas na noite da Grande Belém. "A obra faz parte de uma reflexão sobre o fazer artístico. Desde  2018, trago, em minhas pinturas, narrativas de pessoas trans. Esse contato, essa pesquisa em Artes Visuais, vem também me processando e me transformando. Pensando nisso, a performance traz um pouco desse conceito de que a pintura também "me pinta", trazendo a possibilidade do corpo enquanto obra e exposição. Então partindo desse corpo/obra, levo para as ruas a narrativa da Poliane", detalha Rafael."A partir do contato com os sujeitos da pesquisa e suas narrativas, as reflexões e o meu pensamento enquanto artista", a obra de arte "começa a tomar forma", aponta Rafael. "A pesquisa em Artes me modifica, a pintura é deslocada para o suporte pele e o corpo se torna pintura e exposição móvel, levando para a rua a pintura", acrescenta, na descrição do vídeo.

O forte trabalho do artista, desenvolvido há 12 anos, visa retratar a invisibilização e violência naturalizada contra os corpos de pessoas LGBTQIA+, ressalta ainda Rafael. "Meus trabalhos são uma maneira de subverter o sistema que pratica essa violência", pontua. Com essa iniciativa artística, Rafael espera transportar corpos marginalizados para ambientes diferentes ao que estas pessoas costumam ocupar. "A nossa imagem é deslocada dos guetos, periferias ou avenidas de prostituição, para assim ocupar as galerias e os espaços da arte", defende.

O trabalho integra o "Festival Te Aquieta em Casa", da Secretaria de Cultura (Secult) do Estado do Pará. A iniciativa visa fomentar a produção cultural neste período de isolamento social recomendado pelas autoridades de saúde, que impactam diretamente os profissionais do meio artístico.

Em novembro de 2019, Rafael Monteiro ganhou o primeiro lugar no salão Arte Primeiros Passos, do Centro Cultural Brasil Estado-Unidos (CCBEU) com as obras "Era Uma Diva", "Se Tu Correr..." e "É Muito Pequeno".

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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