Pará se despede de Ary Souza, referência do fotojornalismo na Amazônia



Fotógrafo de O Liberal faleceu esta manhã. Ele lutava contra o câncer e estava internado


O fotojornalista Ary Souza, 63, faleceu na manhã desta segunda-feira (20). Membro da equipe do grupo O Liberal, por mais de três décadas, Ary tinha câncer no fígado, diagnosticado no ano passado. Afastado há alguns meses do trabalho, ele estava internado há uma semana e, nos últimos dias, seu quadro de saúde foi agravado.
Ary Souza foi um dos maiores repórteres fotográficos do Pará – e do Brasil. Foi referência de várias gerações das redações de Belém e era reconhecido por seu empenho na área do jornalismo e pelo grande impacto de suas imagens. Suas histórias também eram conhecidas, pelo fato de não medir esforços para captar as melhores imagens possíveis em cobertura. Entre elas estão a do Massacre de Eldorado do Carajás, entre outras.  
Com Sebastião Salgado, na cobertura de Eldorado dos CarajásCom Sebastião Salgado, na cobertura de Eldorado dos Carajás (arquivo pessoal)

Irreverente e lendário 


"O Ary se tornou uma lenda do fotojornalismo ainda em vida. Polêmico, irreverente e determinado na busca da melhor imagem. Quando comecei no fotojornalismo na Província do Pará logo entendi que o Ary Souza era um concorrente com quem se preocupar", comentou o fotógrafo Oswaldo Forte, editor de O Liberal, com quem Ary Souza atuava.
"Ary fez história no fotojornalismo. Lembro quando um editor queria demiti-lo e o mestre Cláudio de Sá Leal disse que não queria o Ary como seu concorrente. Isso o deixou no Liberal até hoje. Sábia escolha. Que descanse em paz. Bebemos muito nos bares da vida", relembrou o chargista J.Bosco.
“O Ary se tornou uma lenda do fotojornalismo ainda em vida. Polêmico, irreverente e determinado na busca da melhor imagem. Quando comecei no fotojornalismo na Província do Pará, logo entendi que o Ary Souza era um concorrente com quem se preocupar", lembra Oswaldo Forte, editor de fotografia de O LIberal
"Ary tinha o jornalismo nas veias. Por várias vezes viajou apenas com a roupa do corpo, deixando, para trás, sua família. Era pautado pela notícia. Deixava a comodidade em segundo plano para exercer, com paixão, seu ofício", lamentou esta manhã o jornalista Dilson Pimentel, que por várias vezes esteve escalado em missões com o fotógrafo. "Ary era sempre destemido, estava sempre quebrando regras. Tudo para obter a melhor imagem, revelando aquilo que, muitas vezes, as autoridades tentavam esconder. Perdi um amigo e um parceiro de 30 anos. Eu perdi. Todos perdemos. O jornalismo perdeu. Que o Ary possa descansar em paz".
Nascido em 26 de setembro de 1956, Ary Souza começou a atuar no jornal o Liberal em 1986. Além de colecionar belas imagens, o Ary também será lembrado pelas muitas histórias engraçadas e folclóricas. "Ary tinha paixão pelo jornalismo e pela vida. Adorava as coisas de Belém, do Pará. Tinha suas convicções e as defendia com paixão. O jornalismo paraense perde um de seus melhores representantes. Alguém que, na essência, simbolizava tão bem o que é o compromisso com a informação e, principalmente, com as transformações sociais", resumiu Dilson Pimentel.
"Ary era destemido, estava sempre quebrando regras. Tudo para obter a melhor imagem, revelando o que, muitas vezes, as autoridades tentavam esconder. Ary tinha paixão pelo jornalismo e pela vida. Adorava as coisas de Belém, do Pará. Tinha suas convicções e as defendia com paixão. O jornalismo paraense perde um de seus melhores representantes. Alguém que, na essência, simbolizava tão bem o que é o compromisso com a informação e, principalmente, com as transformações sociais. Perdi um amigo e um parceiro de 30 anos. Eu perdi. Todos perdemos. O jornalismo perdeu", Dilson Pimentel, repórter de O Liberal
Arte do cotidiano: imagens de Ary Souza refinavam coberturasArte do cotidiano: imagens de Ary Souza refinavam coberturas (Ary Souza)

Grupo Liberal lamentou a perda


A diretoria do Grupo Liberal lamentou o falecimento de Ary Souza nesta segunda-feira. "Eu estou tão triste. Com tanto tempo de convivência, o Ary não era um colaborador somente, era um amigo nosso", disse a vice-presidente do Grupo Liberal, Rosângela Maiorana, ao tomar conhecimento da morte do repórter fotográfico.
Rosângela Maiorana ressaltou que Ary Souza tinha um talento enorme e era uma pessoa muito querida pelos dirigentes e colaboradores em geral. "Eu não tenho dúvida e, sem desmerecer o trabalho de ninguém, de que o Ary era o melhor repórter fotográfico dessa geração e de outras", afirmou Rosângela Maiorana, comentando a experiência e a trajetória profissional de Ary Souza. "Ele fez o fotojornalismo, como se diz, de antigamente, porque hoje todo mundo tem um celular. Ele tinha o jornalismo na veia", enfatizou.
A parceria entre Ary Souza e o Grupo Liberal sempre foi expressiva. Tanto que a Fundação Romulo Maiorana sempre apoiou os projetos desse profissional, como salientou Rosângela Maiorana. Ela destacou a sensibilidade de Ary Souza não apenas no registro dos fatos cotidianos no fotojornalismo, mas, em especial, no fotografar o humano. 
"Estou triste. Com tanto tempo de convivência, Ary não era um colaborador somente. Era um amigo nosso. Ary Souza fez o fotojornalismo, como se diz, de antigamente, porque hoje todo mundo tem um celular. Ele tinha o jornalismo na veia", lamentou a vice-presidente do Grupo Liberal, Rosângela Maiorana.

Confira alguns trabalhos do fotógrafo:

Arte de olhar o humano 


Em 1997, Ary Souza foi homenageado no Salão Arte Pará, organizado pelo Grupo Liberal. Ele e mais Leila Jinkings, Paula Sampaio, Genaro Joner, Paulino Menezes e João Riper. Em 2002,  Ary iniciou o projeto de documentação "Ribeirinhos". Esse projeto teve patrocínio da Fundação Romulo Maiorana com o foco na realidade de moradores do litoral do Pará.
"Quando víamos o buggy chegar no jornal, já sabíamos que o Ary tinha chegado", lembrou Rosângela Maiorana. "Estamos muito tristes, mas vamos lembrar sempre do Ary como uma pessoa alegre, com alegria e prazer naquilo que fazia", finalizou.

Despedida será só entre parentes


As cerimônias que marcarão o velório e o enterro do fotojornalista Ary Souza, nesta segunda e terça-feira (21), serão restritas apenas à despedida dos familiares, confirmaram esta tarde os parentes do fotógrafo.
A redação integrada de O Liberal ainda apura outras homenagens e manifestações marcadas após a morte de Ary Souza. 

Perda repercute 


"Essa é uma grande perda para o fotojornalismo paraense. Ary Souza foi um dos mais importantes e combativos fotógrafos do nosso tempo", publicou em suas redes sociais a deputada estadual Marinor Brito (PSol), em nota de pesar e de "sentimentos de solidariedade à família, amigos, companheiros e companheiras de trabalho neste momento de dor e pesar".
O Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) também emitiu nota de pesar onde se solidarizou com familiares e amigos do fotojornalista Ary Souza: "Exímio profissional, Ary dedicou-se por mais de 30 anos ao fotojornalismo, construindo notório nome na imprensa do Pará e do Brasil. Sua perda representa um desalento não somente para o jornalismo, mas para toda a população deste Estado. Ary Souza, presente hoje e sempre!".
Fotógrafo iniciou carreira em 1986Fotógrafo iniciou carreira em 1986 (Fábio Costa)

Veja cenas que marcam a história de Ary Souza:


Fonte: O Liberal/Pará (Texto e Fotos)

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