ARTIGO DO DIA - Cotidiano em Destaque
MINHA CIDADE
Por Frei Jonas Matheus
Frade capuchinho, estudante de filosofia.
São Luis-MA
Neste cinco de novembro, Capanema comemora seu Centenário de emancipação política e, como jovem capanemense que trilha uma via filosófica vinculada a uma instituição religiosa cristã, grafo esta reflexão política, como forma bem peculiar de manifestar votos de parabéns. Para tanto, me embaso nas reflexões filosóficas clássicas, no tocante à questão da polis em Platão (A República), Aristóteles (Política) e Santo Agostinho (A Cidade de Deus).
Na reflexão platônica, a polis é justa quando cada classe que a compõe, desempenha bem sua função, voltada para o bem comum, culminando na justiça social. Os trabalhadores devem brilhar pela temperança, a segurança pública, pela coragem e os governantes pela prudência filosófica. Virtudes estas que já devem habitar na alma de cada cidadão afim de que a justiça individual comungue na constituição da cidade justa. Para tanto a classe governante deve subir pela via da racionalidade filosófica à contemplação do bem ideal, que norteará sua ação política de forma válida. Também daqui, provém a necessidade de uma válida promoção da cultura dos cidadãos, o que não implica na deformação alienante de uma instituição escolar que está aí, reproduzindo o sistema capitalista, marginalizando os descendentes da classe trabalhadora e concentrando mais a posse dos meios intelectuais e tecno-científicos na prole da classe burguesa, como bem evidenciam os sociólogos franceses Baudelot e Establet. Outro déficit nesta área é aprofundado quando não existe o apoio do governo publico, de maneira total, as iniciativas culturais dos cidadãos, que para publicarem obras de sua autoria, ou arcam com suas despesas pessoalmente ou recorrem a diversos patrocinadores, sobretudo do setor comercial, menos ainda há inserção das publicações locais- sobretudo literárias- de forma permanente na escola.
Na Política, Aristóteles ressalta como melhor modelo, a aristocracia, que significa “governo da virtude”, pois na ética aristotélica a virtude é o justo meio, entre deficiência e exagero que constituem o vício. De fato, para o estagirita, as aristocracias possuem uma autêntica cultura, fundada na filosofia, sobretudo na metafísica. Segundo Martin Heidegger, o ser humano se torna o que lê do mundo, ou seja, o que ele interpreta do espaço-tempo, no qual está presente. Aqui refletimos, se nossos cidadãos haurem uma pseudo-cultura, oriunda de alguns mass media corruptos ou de uma cultura salutar, edificada sobre a filosofia do ser, só neste caso teremos cidadãos aristocratas.
Agostinho de Hipona sublinha que, neste mundo duas cidades são contemporaneamente construídas, a Cidade de Deus (que é eterna) e a Cidade dos Homens (fadada ao devir temporal). A cidade temporal é regida pelo amor próprio até o desprezo de Deus, ao passo que a cidade eterna, rege-se pelo princípio do amor a Deus até o desprezo de si mesmo. Para o prelado hiponense, “o peso do ser humano está na medida do seu amor”. Karol Wojtyla, partindo de sua posição personalista cristã, esclarece que a moral religiosa só é autêntica se praticada por amor, e jamais por troca de favores ou medo de um castigo eterno, o que degeneraria numa moral religiosa de pessoas interesseiras. Assim, somente se a prática religiosa do cidadão for pautada no amor oriundo do conhecimento do Ser Divino, esse edificará a cidade por uma política perene.
Dessa maneira, expresso votos de parabéns a minha cidade, representada nas pessoas de boa vontade que asseguram sua perenidade, deixando-lhe os protestos que sua política, possa fortalecer-se nas manifestas contribuições dos teóricos destacados neste, para que siga realmente num rumo de construção do progresso e da paz.
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