Campanha recria a imagem de Machado de Assis negro



Questionamentos sobre a vida de Capitu dentro da obra “Dom Casmurro”, uma das mais marcantes da literatura brasileira, seguem como tema de debate entre amantes da leitura. O livro lançado em 1899 foi escrito por Machado de Assis, considerado um dos mais importantes autores da história da literatura brasileira.
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba” também são romances escritos por Machado, que ficaram marcados na literatura brasileira. Mesmo com toda sua importância como figura dentro da história da cultura nacional, Machado teve sua própria identidade apagada ao longo do tempo.
Nos livros de história e até mesmo em suas obras, há uma foto clássica de Machado de Assis onde ele aparece branco, e este foi o problema que motivou a criação da campanha “Machado de Assis Real”, pela Faculdade Zumbi dos Palmares, de São Paulo.
“Machado de Assis era um homem negro. O racismo o retratou como branco. É hora de reparar essa injustiça”, diz o texto do site da campanha (machadodeassisreal.com.br), que disponibilizou uma foto em alta qualidade de Machado de Assis negro. Um dos objetivos é estimular que as pessoas imprimam a foto e colem sobre a antiga, em que o autor é representado como branco.



Considerado o maior nome da literatura do Brasil, Machado de Assis era também jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. A campanha explica que o racismo no Brasil escondeu quem Machado era por séculos, e sua foto oficial, reproduzida até os dias atuais, distorce os traços e rejeita sua verdadeira origem.
“Há algum tempo que o movimento negro vem falando sobre isso, porque uma das coisas importantíssimas para as pessoas negras no Brasil é buscar representação positiva”, explica a ativista e professora de artes das Universidade Federal do Pará (UFPA), Zélia Amador de Deus.
Para Zélia, é importante que a academia assuma para si o papel de recuperar a imagem do autor. “Ele é o escritor Machado de Assis, mas ninguém nunca se referiu ao fato de ele ser uma pessoa descendente de negros e, portanto, negro. As fotos sempre foram tentando embranquecer a pessoa e o Machado é representado como branco para a sociedade brasileira”, explica a professora.
As imagens retocadas do autor ao longo do tempo e a falta de informação sobre sua identidade fizeram com que um banco, em 2011, escolhesse um ator branco para interpretá-lo em um comercial de TV. Depois de sofrer duras críticas sobre a escolha, o mesmo banco reconheceu o erro e refez o vídeo, desta vez com um ator negro.
Para evitar que episódios como esse se repitam, e também fazer com que a população negra se enxergue como uma representação positiva dentro da história do Brasil, a campanha se apresenta como “uma errata histórica feita para impedir que o racismo na literatura seja perpetuado”.
A propagação da verdadeira imagem de Machado de Assis, segundo Zélia Amador, também é importante para que jovens negros possam se ver representados na história do país de forma positiva.
“A gente é muito mal representado no Brasil, nossa memória e nossa representação são todas negativas. E quando você tem um Machado de Assis, o maior escritor brasileiro que pode servir de exemplo para crianças negras que estão buscando seu retrato positivo na história do país, elas não encontram porque os negros foram embranquecidos nas representações criadas pelos brancos”, explica Zélia.
A campanha segue espalhando a imagem real de Machado de Assis. Na terça-feira (7), uma foto foi entregue à Academia Brasileira de Letras, para que substituísse a imagem antiga.





Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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