As memórias da assombração de Josephina Conte, a 'Mulher do Táxi'


Além da culinária e diversos locais que chamam a atenção de turistas do mundo todo, Belém também cultiva diversas histórias de assombrações, ou as famosas "visagens", como foram imortalizadas por Walcyr Monteiro no livro "Visagens e Assombrações de Belém".
Uma das histórias mais famosas da compilação organizada por Walcyr é a "Mulher do Táxi", onde uma moça pede para ser levada de carro por diferentes pontos turísticos da cidade, e depois ser deixada em casa.
Ela está sem dinheiro e diz ao taxista para voltar no dia seguinte ao endereço para receber o pagamento do pai, alegando que o passeio é seu presente de aniversário. Mas ao voltar no endereço para receber o valor, o taxista descobre que a moça está morta há anos.
A personagem que inspirou a história foi Josephina Conte, que morreu aos 16 anos com tuberculose. Rita Conte é uma das parentes vivas da mulher que inspirou a história, e relembra ter passado a adolescência sempre ouvindo falar da "meia-tia" com admiração.
"A verdade é que a gente é distante mas não tanto. O meu avô, quando foi vivo, sempre deu toda a assistência do mundo para minha família. Então a primeira vez que ouvi falar da Josephina sempre foi de uma forma de comoção. Ainda não estava solidificada a história da 'moça do táxi', isso aconteceu mais próximo da década de 70. Antes disso eu só ouvia falar dela com admiração, de como ela morreu jovem e coisas do tipo", conta.
Rita é "meia sobrinha" de Josephina porque, segundo ela, o avô teve duas famílias, e ela seria filha da segunda. "Meu avô tinha duas famílias: uma com a minha avó; e a outra família mais tradicional, com a mulher que era italiana, com quem ele teve cinco filhos, incluindo a Josephina", relembra.
"Minha avó não era a mãe da Josephina, era a outra parte da família, com quem ele teve sete filhos e registrou os sete com o nome Conte, daí a origem do nome. Na década de 30, apesar de não ser bem visto um comerciante com duas famílias, era algo aceito", conta Rita.

Mito e Devoção

Ela relembra ainda que durante sua adolescência não existia o mito da "Mulher do Táxi" de uma forma tão forte, e que não tinha consciência do que era a família, já que Josephina morreu muito jovem.
"As pessoas acreditam muito, e eu não sabia o que era de fato. Até que uma vez, quando trabalhei em uma rádio nos anos 80, um senhor ligou perguntando se o Conte do meu sobrenome tinha a ver com a família da Josephina. Ele era devoto dela, e acho que foi nesse dia que tive a noção do que era. Disse para mim mesma: 'Meu Deus! Ele é devoto', e foi me conhecer como se fosse algo de outro mundo. Disse que alcançou várias graças por conta dela", relembra.
No final de 2018, Rita teve um encontro com um outro neto de seu avô, Paulo Conte. Ele era filho de Rosário Conte, o irmão mais velho de Josephina, e veio a Belém vasculhar o apartamento de sua mãe, que foi colocado à venda posteriormente. No encontro, Rita diz que Paulo a mostrou fotos de Josephina ainda viva e outras feitas em seu velório, com a moça no caixão.
"Quando vi as fotos disse o que significava aquilo e ele não tinha noção que nossa tia e a lenda tomaram proporções inimagináveis. Fotografar morto antigamente era muito comum, e imagina importância disso hoje. Mas ele não ligou muito para a coisa da lenda e do mito. Não sei se passava longe da família ou ele não gostava", disse.
Rita conta que sua avó começou a trabalhar aos 16 anos na fábrica de sapatos do pai de Josephina. Os dois então tiveram filhos, incluindo a mãe de Rita. Ela explica que no início, quando a história da "Mulher do Táxi" começou a ficar famosa, houve também um rumor de que seu avô teria sido uma das primeiras pessoas a ter carro em Belém, o que pode ter resultado na lenda. A mãe de Rita também era a única filha mulher do casamento com avó, e conta que a relação dos dois era similar a que ele tinha com Josephina.
"Eles eram loucos um pelo outro. Minha mãe nasceu em 1934, quando a Josephina já era morta. No aniversário da minha mãe ele sempre ia até a casa da minha avó, buscava minha mãe, passeava, dava presentes e devolvia ela no final da tarde com roupas novas e sapato combinando. Isso era algo que ele também fazia com a Josephina", conta Rita. "Por isso que a história do táxi tem essa origem. Ele contava que se fosse dirigindo não teria graça porque não veria a reação dela; então eles iam em um táxi para passear de braço, como fazia com minha mãe".
O ato de afeto repetido em todos os aniversários, e que levou a criação da história da "Mulher do Táxi", segundo Rita, também se devia ao fato de o avô ser da religião espírita. "Isso fazia com que ele acreditasse que minha mãe fosse uma reencarnação da Josephina, já que ele sofreu muito com a morte dela e acreditava que por ela ter morrido muito jovem, havia morrido sem pecados", finaliza Rita.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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