Paraenses concorrem ao prêmio mais importante dos quadrinhos mundial


Uma das mais conceituadas premiações de HQ do planeta, o Will Eisner Comic Industry Award, tem este ano dois nomes paraenses entre os indicados. Joe Bennet e Ruy José concorrem na categoria Melhor Série Contínua, pelo trabalho “The Immortal Hulk”. Os paraenses formam equipe com o roteirista britânico Al Ewing pelo trabalho na Marvel.
Considerado o Oscar dos quadrinhos, em 2019 o prêmio tem quatro brasileiros entre os indicados. Ruy e Joe representam o país junto ao capixaba Arabson Assis, indicado na categoria Melhor Edição Única com “A Terrível Elizabeth Dumm contra os Diabos de Terno”; e os gaúchos Gustavo Borges e Cris Peter, indicados na categoria Melhor Publicação para Jovens Leitores (até oito anos) com “Pétalas”.
Tanto para Joe quanto Ruy, esta é a primeira indicação à premiação americana. Ambos destacam que trata-se do reconhecimento ao esforço de uma equipe encabeçada por três pessoas: o roteirista britânico Al Ewing, Joe Bennett como desenhista, e Ruy José como arte-finalista.
Joe explica que o trabalho começa com Al, que escreve a história, passando depois para ele, responsável por traduzir a narrativa em desenhos a lápis; chegando finalmente em Ruy, que coloca o preto e define as formas necessárias para a finalização do desenho. “Junto da equipe eu dei uma abordagem em cima do terror, mais séria, com luz e sombra, esse é o diferencial dessa série”, explica Joe.
Sobre a premiação que ocorre em julho, durante a Comic-Con em San Diego, nos Estados Unidos, Joe diz que não poderá comparecer. “Estou muito atarefado e nunca fui a premiação em San Diego antes. Eu não estava esperando ser indicado, mas estou feliz por isso, se ganhar é lucro”, diz.
“Eu não comecei visando prêmio, o que eu queria fazer era uma boa história, e fazer os leitores terem um bom material. Eu tenho um grande carinho pelo Hulk desde criança e hoje estou muito feliz. Já sou vencedor”, relata o quadrinista.
Ruy relembra que a notícia sobre a indicação ao prêmio chegou antes para a equipe, e foi necessário segurar o segredo por um tempinho. “A equipe toda recebeu um e-mail na sexta-feira, então antes de todo mundo a gente já sabia, só tivemos que ficar calados um pouquinho, mas claro que contamos para as pessoas mais próximas e mais tarde todo mundo já sabia”, relembra ele entre risos.
O artista explica que a premiação é destinada à série “The Immortal Hulk”, assim como a equipe responsável por ela. “É uma série com várias edições, e se ela continuar agradando o público corremos o risco de ser novamente indicados no ano que vem”, conta.
Ruy relembra que “The Immortal Hulk” começou a ser publicada dentro de uma revista dos Vingadores, com algo em torno de dez páginas; e só no final de 2017 a equipe foi formada para iniciar o trabalho com a série. Por enquanto a história ainda não foi publicada no Brasil.
A expectativa pra um prêmio paraense é grande, considerando que brasileiros tem história dentro da premiação. Na edição de 2018, o brasileiro Marcelo D'Salete foi um dos premiados no Eisner Awards. O álbum "Cumbe" foi reconhecido como a Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro. Nos Estados Unidos a revista foi publicada com o título "Run For It".
Dedicação exclusiva para garantir excelência no trabalho
Ruy considera os Estados Unidos como o berço da cultura dos quadrinhos, e conta que o mercado americano tem uma produção diferente do resto do mundo, de característica mais industrializada. “A produção é mais rápida, são 20 páginas durante um mês, e para manter uma qualidade artística eu praticamente perco a vida. Não saio muito, trabalho de domingo a domingo, feriado, aniversário, todo dia trabalho um pouquinho”, conta ele sobre a rotina de trabalho.
Os quadrinistas paraenses fazem parte de uma cadeia de profissionais espalhados pelo mundo inteiro, que trabalham para manter o mercado de quadrinhos americanos. Ruy mora no município de Castanhal, e sobre as relações com o trabalho e público, conta: “Quando vou para as convenções todo mundo para na minha mesa, pede autógrafo, mas aqui eu sou mais um, ando tranquilo pela rua. Até porque eu tenho um retorno, mas não é tão grande assim; um médico e um engenheiro ganham bem mais do que eu. Às vezes tenho que abrir mão de muita coisa para dar conta de 20 páginas por mês. Toma muito tempo da minha vida”, conta ele.
Apesar da rotina árdua de trabalho, Ruy considera que está onde queria. “O quadrinho é minha vida, estou no lugar certo. Na verdade o reconhecimento é parte de um trabalho árduo, minucioso. Eu me cobro muito na qualidade e eficiência de entregar algo ao espectador, que é a pessoa final, é para ele que tudo isso é feito. Todos esses anos com meu esmero e esforço são uma bênção, é muito bom ser reconhecido, o esforço vale a pena”, justifica.
Ruy José se formou em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará em 1999, e conta que optou por ir atrás de algo que gostava de fazer; foi quando conheceu Joe Bennett em Ananindeua. “Fiz muitas visitas, fiquei conversando, ele me apresentou o desenho dele. Eu já desenhava na época e tentei fazer algumas coisas de desenho para algumas editoras, mas me identifiquei mais com a arte final, onde sou mais rápido”, explica Ruy.
Os dois começaram a trabalhar juntos na DC em 2003, e desde então Ruy passou por outros trabalhos, também com a Marvel. Além de Bennett, ele também já trabalhou com outros profissionais do Brasil e do mundo, como o paraense radicado em Minas Gerais Eddy Barrows e o canadense Dale Eagle Chan.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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