De Capanema para Moçambique e da janela ao horizonte



**Mais um texto que viaja no mundo das letras, ligando Capanema a moçambique...


Um livro e como uma janela. Quem não o lê, é como alguém que ficou distante da janela e só pode ver uma pequena parte da paisagem.

Khalil Gibran

Permitam-me antes, elogiar o casamento e proximidade que este grupo de amantes da arte nos proporciona. É lindo ver nascer ideias e exposições, ainda que, insipientes mas carregadas de um simbolismo bastante forte de criação da nossa identidade e a abertura ao mundo, nesta aldeia global que procuramos nos fixar. Com este grupo chegamos distante, o grupo liga-nos aos nossos irmãos que a história nos separa deles, podemos afirmar que hoje temos a nossa janela onde cada um vê as horas se indo e com ela os seus sonhos se esvaiam (discurso adaptado do texto da amante Conceição Maciel). 

Conceição Maciel:
Poetisa de Capanema
-Pará-Amazônia-Brasil
 Talvez esta seja a nossa janela como escreve a amante Conceição no seu lindíssimo poema que mereceu sobejada análise do meu grande amigo, colega da “trincheira” (amante Alexandre). É “Da janela” da amante Conceição Maciel que pretendo navegar num mar sem fim. O texto para além de aprofundar as relações de (inter e multi) culturalidade entre os povos brasileiro e moçambicano, leva-nos a profundos questionamentos sobre aquilo que somos e a nossa essência, a de negro no equilíbrio do mundo.

A poetisa propõe-nos uma navegação pela janela, chama-nos a acreditar que mesmo quando as portas se fecham temos um lugar de refúgio “a janela”, esta janela que nos trás o vento que emaranha os nossos cabelos negros. Ao recorrer aos cabelos negros a poetisa exalta a sua identidade, o ser nacional e aberto ao mundo! (Gosto, desta irreverência na escrita) serão esses cabelos negros emaranhados que permitirão a penetração do vento que enxuga as suas lágrimas, talvez carregadas de dor, angustia e solidão “ solitário resquício de nostalgia”. A nostalgia lhe assola porque ela foi desterrada e encontra na janela a única forma de lá estar junto do seu convívio, onde as canções têm o seu habitat. Ressalta-se a importância da janela ao trazer para este ser isolado a esperança de viver, pois nela, a poetisa recomenda-nos a parar nela e orar e sonhar pelos dias melhores.

No meio de tantas turbações a poetisa chamo-nos atenção para a necessidade de termos esperança e nunca desistir, pois um dia com os nossos olhos veremos pássaros voando, a janela será uma porta para a realização dos nossos sonhos.

Aliás pode se ver em Conceição “quase em todos seus poemas” a necessidade de dar asas as palavras, essas que as algemas nunca irão atacar. Permitam-me que busque alguns versos do seu recente poema aqui publicado “ … Te encontrei descansando debaixo da árvore”, mais uma vez a sua necessidade de ser livre com bases da terra, ao recorrer ao substantivo “ árvore”, a poetisa nos convida ao regresso das nossas essências “africanas” que também são do povo brasileiro (uma reafirmação de que somos mesmos irmãos) e buscar o consolo na árvore esta planta misteriosa que nos coloca em disposição e em contacto com os nossos antepassados, no cenário contrário Maciel caracteriza esta árvore em estado murcho e em decomposição. Certamente podemos em algum momento murchar mas se voarmos e dar-mos um salto pela janela, esta multiculturalidade entre os povos será real.

Em Conceição a “árvore” revigora-se em alegria, será a árvore operadora de milagres, que lhe fazem recordar o riso esquecido dentro do baú da saudade. Não é por acaso que a poetisa recorre ao substantivo “árvore” para buscar melhores conselhos, recorre-se a ela, justamente, porque ela é carregada de enorme simbolismo, aliás, mesmo em caso de morte nós africanos melhor descansamos em árvores, pois nela existem as nossas raízes.

“Olho este grupo como o outro lado do “da janela para muitos jovens voarem”

 Maria




Florentino Maria Lourenço, licenciado em Ensino de Português pela Universidade Pedagógica, Mestrando em Educação na Universidade Metodista Unida










Edição: Maikon Douglas
Fotos: Divulgação

2 comentários:

  1. Muito obrigada Paulo Vasconcellos por nos ceder este nobre espaço para a comunicação que se apresenta de forma envolvente e forte para com os nossos irmãos moçambicanos. Gratidão ao poeta Florentino por nos proporcionar tamanha alegria ao analisar de forma tão intensa um doa meus poemas. Aplausos para essa linda conecção entre o Brasil e Moçambique. Que permaneça.

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    1. É a poesia capanemense sendo mostrada para o mundo e isso nos revigora. Aplausos pra você e para o poeta Florentino!

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