ESPECIAL COPA DO MUNDO 2010 - Notícias, Fatos e Fotos.

Edição: Paulo Henrique

Argentina repete filme, bate o México e vai atrás da Alemanha nas quartas

Gol ilegal de Carlitos Tevez abre caminho na vitória por 3 a 1. No sábado, às 11h, hermanos fazem duelo de campeões contra o algoz da Copa de 2006
A figura de Maradona à beira do campo, envergando seu terno cinza, ajuda a lembrar que este não é um filme repetido. O técnico é novo, mas o roteiro argentino no mata-mata da Copa de 2010 vai se desenhando como um plágio de 2006. Neste domingo, a vítima foi o México, assim como tinha sido há quatro anos, com a diferença de que, desta vez, foi um gol ilegal de Tevez que abriu o caminho para a vitória por 3 a 1. Cenas do próximo capítulo: no sábado, às 11h, na Cidade do Cabo, está marcado para as quartas de final um duelo de campeões, daqueles que fazem tremer qualquer estádio. Na outra metade do campo, bate ponto a tricampeã Alemanha, algoz dos hermanos no último Mundial. Saiam da frente.

Em 2006, a Argentina bateu o México na prorrogação, com gol de Maxi Rodríguez, e foi eliminada pelos alemães nos pênaltis. Maradona, que estava em frente à TV há quatro anos, espera que agora a segunda parte do filme tenha um final mais feliz.
Carlos Tevez à frente de Messi: com dois gols, ele foi o melhor em campo no domingo (Foto: Getty Images)

No domingo, os 84.337 torcedores no Soccer City viam um México abusado e bem armado no início do jogo, quando Tevez abriu o caminho da vitória argentina em claríssimo impedimento, ignorado pelo juiz. Higuaín fez 2 a 0 e assumiu a artilharia da Copa, com quatro gols. O próprio Tevez, com um foguete de fora da área, ampliou o placar, e os mexicanos ainda diminuíram com Hernández. Bem marcado, Messi fez boas jogadas, mas não conseguiu repetir as atuações anteriores, e ainda não foi desta vez que conseguiu balançar a rede.
Antes de fazer qualquer defesa, Perez fez um bico
Se Maradona era torcedor em 2006, desta vez ele tinha responsabilidades à beira do gramado. O técnico deixou Verón e Guitérrez no banco, lançando Maxi Rodríguez e Otamendi. Na zaga, Burdisso foi mantido no lugar do lesionado Samuel. Do outro lado, Javier Aguirre surpreendeu ao fazer uma pequena revolução no elenco: "Chicharito" Hernández barrou Franco no ataque e ainda ganhou um novo companheiro: Bautista, que não tinha atuado um minuto sequer, mas superou Barrera na disputa para substituir o machucado Vela.
O primeiro embate do dia foi entre o goleiro Perez e um enorme rolo de papel higiênico jogado pela torcida no meio do campo. O juiz italiano Roberto Rosetti parou o jogo aos cinco minutos, e o carequinha que guarda as traves mexicanas se encarregou de fazer a faxina no gramado.

Maradona aplaude Messi, que não chegou a brilhar
Messi se engraçou aos sete, em jogada individual que terminou em chute prensado na zaga. Mas o primeiro grande susto saiu logo depois, pelos pés de Salcido, que soltou uma bomba do meio da rua e por pouco não surpreendeu Romero: o goleiro fez mão de maionese e a bola explodiu no travessão. Em seguida, Guardado bateu de fora da área e viu o tiro, com incrível efeito, raspar a trave. O camisa 10 da Argentina arrancou de novo aos 12 e ganhou do zagueiro na corrida, mas tentou uma jogada que nem o maior craque da Copa consegue: encobrir um goleiro que estava em cima da linha.
Nos primeiros 15 minutos, três finalizações para cada lado, mas o México chegava com mais perigo. E a defesa conseguia a proeza de anular as jogadas argentinas pelas pontas. Engarrafado no meio, Messi tinha que voltar até a linha do meio de campo, sempre com pelo menos dois jogadores beliscando seus calcanhares.
Impedimento? Hein?
A solução para sair dessa enrascada? Uma ajudinha do apito. Aos 26, Messi tocou para um Tevez em posição duvidosa. O atacante dividiu com o goleiro e a bola voltou para o camisa 10, que tentou encobri-lo. Aí reapareceu Tevez, e desta vez sua posição não tinha nada de duvidosa. Completamente impedido, Carlitos cabeceou livre para o fundo da rede.
Enquanto Tevez se ajoelhava perto da bandeirinha de escanteio e mordia o escudo na camisa, os mexicanos voltavam para dar a saída no meio de campo. Foi aí que o telão do estádio, contrariando o habitual na Copa, mostrou o replay do lance, com tira-teima e tudo. Resultado: um exército verde partiu em direção ao árbitro italiano. Rosetti ainda foi consultar o assistente Stefano Ayroldi, mas a dupla confirmou a lambança: Argentina 1 a 0.
Mexicanos avançam no assistente após o gol ilegal de Tevez. que abriu o placar (Foto: Getty Images)Aos 33, os hermanos receberam outra ajuda generosa, desta vez do zagueiro mexicano Osorio, disparado o pior em campo no primeiro tempo. Na entrada da área, o camisa 5 recebeu a bola sozinho, tranquilo, soberano, só ele e a Jabulani. Mesmo assim conseguiu se enrolar todo. Entregou o ouro para Higuaín, que, surpreso com o presente, invadiu a área e teve frieza para driblar o goleiro antes de fazer o segundo.
No vídeo ao lado, dá para ter uma ideia das presepadas de Osorio durante a partida. Mas Higuaín não tem nada com isso. Artilheiro da Copa com quatro gols, ele partiu acelerado em direção a Maradona, que agradeceu com um abraço caloroso. Pouco antes, ganhou os parabéns do lateral Heinze, que não percebeu o cinegrafista à beira do campo e – bum – deu uma cabeçada na câmera. Em um milésimo de segundo, a euforia virou fúria, e o argentino, no reflexo, deu um tapão no equipamento. Segue o jogo.
Os dois gols deram um banho de água fria no México, e a Argentina teve chances de ampliar. Aos 36, Di María chutou cruzado e obrigou Perez a fazer grande defesa. Quatro minutos depois, Higuaín ganhou de Osorio – sempre ele – no alto, mas cabeceou para fora.
Repleto de tensão, o primeiro tempo terminou com bate-boca e empurra-empurra na saída para o vestiário. Na boca do túnel, o bolo de gente incluía jogadores mexicanos, Maradona, reservas argentinos. Blanco e Clemente Rodríguez chegaram a trocar empurrões. No fim das contas, o tumulto foi controlado e todos desceram na santa paz para os 15 minutos de descanso.

Foguete de Tevez destrói o México
Na volta para o segundo tempo, Javier Aguirre tirou Bautista – que não fez absolutamente nada em seus únicos 45 minutos na Copa – e lançou o atacante Barrera. A estratégia ofensiva do México, contudo, foi dizimada por um torpedo inapelável de Tevez. Aos sete minutos, o camisa 11 perdeu a bola para os zagueiros na frente da área, mas recuperou a posse e não pensou duas vezes: um canudo no ângulo de Perez, golaço, 3 a 0.
Aos poucos, o México voltou a respirar. A equipe aumentou o volume de jogo e chegou algumas vezes, principalmente com chutes fortes de fora da área. Guardado, Salcido, cada um foi tentando o seu, e o goleiro Romero botava para escanteio ou via a bola sair em tiro de meta. Hernández teve sua primeira chance de cabeça aos 17, mas mandou por cima do travessão.
Bola na rede: Hernández deu um sopro de esperança ao México no segundo tempo (Foto: Getty Images)Aos 23, descanso merecido para o guerreiro Tevez. Autor de dois gols, ele deixou o campo para a entrada de Verón e ganhou o abraço agradecido de Maradona.
O esforço asteca persistiu. Aos 24, Heinze salvou em cima da linha o que seria o gol de Barrera. Aos 26, não houve jeito. Hernández botou na frente, criou espaço dentro da área e encheu o pé esquerdo, balançando a rede de Romero.
Ao fim do jogo, o torcedor mexicano, solitário, não
Com Messi apagado, a Argentina não conseguia emplacar seus contra-ataques. Mas os comandados do Pibe deram um jeito de segurar o ímpeto verde e manter o placar a seu favor. O camisa 10 ainda teve uma oportunidade de ouro para marcar no último minuto. O chute esbarrou no goleiro Perez, que mandou a escanteio.
Fim do filme, sobem os créditos: Tevez é eleito o melhor da partida pelos internautas que votaram no site da Fifa; Higuaín passa a ser artilheiro isolado do Mundial, com quatro gols; Messi não estufa a rede e mantém seu jejum; Maradona segue inflado de confiança. Agora, o treinador pode pensar na reprise de sábado – torcendo, claro, para que a película tenha um desfecho diferente.




Inglaterra prova do veneno de 1966 e acaba goleada pela Alemanha: 4 a 1
Como na final da Copa há 44 anos, ingleses voltam a mandar bola no travessão e depois no chão. Desta vez, entretanto, ela entra, mas juiz não dá

Quarenta e quatro anos se passaram desde que a Inglaterra se sagrou campeã mundial pela única vez. Naquela final de 1966, o English Team, jogando em casa, derrotou a Alemanha por 4 a 2. Na prorrogação, com o jogo empatado em dois gols, Hurst protagonizou um lance que entrou para a história como uma das grandes polêmicas das Copas e pôs os ingleses em vantagem. Neste domingo, no Free State Stadium, em Bloemfontein, a Inglaterra provou deste veneno e, em lance semelhante, teve o erro da arbitragem contra si. A Alemanha, que ficaria contra as cordas na partida, respirou e construiu uma goleada de 4 a 1 que a levou à fase de quartas de final da Copa do Mundo de 2010.
Se em 1966 o chute de Hurst bateu no travessão e quicou exatamente em cima da linha, desta vez a conclusão de Lampard tocou a barra e caiu dentro do gol alemão. Em vez de dar o gol, como há 44 anos, a arbitragem do século XXI mandou o jogo correr. Seria o gol de empate da Inglaterra, que àquela altura, no fim do primeiro tempo, perdia por 2 a 1 (Klose e Podolski marcaram para os alemães, com Upson descontando). Na etapa final, o English Team foi com tudo em busca da igualdade e acabou levando mais dois gols de contra-ataque, ambos marcados por Müller.
Rooney reclama com o assistente Mauricio Espinosa, que não assinalou o gol de Lampard (Foto: Reuters)

Na fase de quartas de final, a Alemanha vai encarar, no próximo sábado, a Argentina, que derrotou o México por 3 a 1, também neste domingo. Os ingleses, que foram maioria entre os 40.510 torcedores que foram ao estádio Free State Stadium, voltam para casa uma vez mais com campanha decepcionante (uma vitória, dois empates e uma derrota).


O jogo

A Inglaterra começou o jogo tendo mais a bola nos pés, mas sem penetração alguma. Nos minutos iniciais, quem ameaçou foi a Alemanha, em duas penetrações do meia Özil. Na melhor delas, o camisa 8 obrigou o goleiro James a fazer uma boa defesa.
O English Team demorou 17 minutos para conseguir organizar sua primeira jogada ofensiva com um mínimo de sucesso. A defesa alemã acabou por parar Lampard com falta. Na cobrança, o volante acertou a barreira e não deu trabalho ao goleiro Neuer.
Foi dos pés do arqueiro alemão, por sinal que nasceu o primeiro gol da partida, aos 20 minutos. O camisa 1 deu um chutão para a frente e acabou por servir Klose no outro lado do campo. O atacante ganhou no corpo a corpo com o zagueiro Upson e bateu na saída de James para fazer 1 a 0.
Thomas Müller (meio) Özil e Khedira comemoram um dos gols da Alemanha (Foto: Reuters)O gol atordoou a seleção inglesa, que ficou perdida em campo. Atacando sempre pela direita, os alemães, com Müller muito inspirado, tiveram chance de ampliar. Klose recebeu passe do camisa 13 e, livre, chutou em cima de James.
Aos 32 minutos, entretanto, não teve jeito. Klose foi à lateral direita e deu um passe com açúcar para Müller na área. O jovem não foi fominha e serviu Podolski, no lado esquerdo. O camisa 10 bateu pelo meio das pernas do goleiro e correu para o abraço.

O técnico Fabio Capello não cansou de esbravejar

Tudo levava a crer que a Alemanha então reinaria no jogo, mas a Inglaterra não se entregou. Aos 37, o English Team diminuiu o prejuízo com Upson escorando de cabeça um cruzamento de Gerrard.
O lance incendiou o time de Fabio Capello, que fez o segundo gol logo em seguida. Lampard bateu, a bola tocou o travessão e quicou 33 centímetros dentro do gol. A arbitragem ignorou e mandou o jogo correr.
Não houve repetição no telão do Free State Stadium, mas a sensação é de que todos os presentes viram que a bola entrou. Na saída para o intervalo, Beckham de gravata, foi interpelar a arbitragem, mostrando com as mãos o quanto a bola havia entrado.
Na segunda etapa, a Inglaterra voltou com tudo para buscar o empate e se lançou ao ataque. Lampard, de falta, acertou o travessão logo aos 6 minutos e empolgou seus companheiros.
A Alemanha, por sua vez, adotou postura retraída para explorar os contragolpes. E foi assim que matou o jogo, com duas estocadas fulminantes. Aos 22 minutos, Lampard bateu falta na barreira, Terry tentou pegar a sobra e foi desarmado. Müller então fez lançamento longo para Podolski, na ponta esquerda, e tratou de cruzar o campo para receber de volta, na entrada da área. O camisa 13 soltou a bomba e James ainda tocou na bola, mas não conseguiu fazer a defesa.
Klose corre após marcar o primeiro gol da Alemanha contra Inglaterra (Foto: Reuters)Três minutos depois, o golpe de misericórdia. Em nova bola tomada na defesa, Klose lançou Özil, novamente na ponta esquerda. O camisa 8 avançou até dentro da área e rolou com açúcar para Müller estufar mais uma vez a rede inglesa.
Parada resolvida, o técnico Löw trocou seus homens de frente. A Alemanha fez o tempo passar, diante de uma Inglaterra que lutou até o fim para diminuir a desvantagem, mas acabou por sair da Copa com o gosto amargo de uma goleada diante de um arquirrival.

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