Ícone do teatro paraense, Cláudio Barradas volta aos palcos


Neste Dia Nacional do Teatro, o Pará celebra uma das suas principais personalidades, o ator, dramaturgo e diretor Cláudio Barradas. Prestes a completar 90 anos - em 4 de janeiro do ano que vem - ele volta aos palcos com o espetáculo "Abraço", roteiro de Edyr Augusto Proença sobre a solidão. Ele contracena com a atriz Zê Charone, para a qual narra o drama de invisibilidade social vivenciado pelo personagem. A peça reestreia após 10 anos, no sábado, 21, e permanece em cartaz no domingo, 22, e, ainda nos dias 28 e 29 de setembro e 5 e 6 de outubro, sempre às 20 horas, na Casa Cuíra.
"O teatro é a minha vida. Sou padre há 28 anos, sirvo a Igreja, e sou ator, sirvo o teatro. Trabalho em teatro desde os 13 anos de idade. Fiz peça a minha vida toda, fiz espetáculo em tudo que é buraco de Belém, fora de Belém, em outros estados e até na Colômbia. Fazer teatro é o ar que eu respiro. Já fiz bandido, prostituta e gay... Cada peça que eu faço são férias que tiro de mim e volto enriquecido. O ator aprende em uma vida só o que são mil vidas," descreve Cláudio Barradas.
Ele está aposentado há pouco mais de um ano e dirige o retiro espiritual Casa Tabor, em Icoaraci, onde vive. "Cláudio Barradas é uma glória do teatro. É um grande ator e diretor, que tem uma memória fantástica para decorar texto. É um dos pais do teatro paraense. Ele é uma pessoa muito importante para a cultura do Pará, que contribui para o bem comum com a arte dele", destaca Edyr, que também assina direção e a trilha sonora do espetáculo.
Em "Abraço", Edyr Proença se inspira em um amigo do pai dele, Edgar Proença, um radialista que sofria de depressão. Cláudio Barradas também conheceu o radialista: "Esse personagem não é fictício, ele existiu. Era um colega nosso, do meu tempo de rádio na PRC-5. Era alegre, jovial e brincalhão, que ficou macambúzio, sozinho, não fazia cabelo e barba e se trancou no apartamento com depressão altíssima até ser encontrado morto, possivelmente de inanição", recorda.
Na peça, o personagem tornou-se alcoólatra e foi abandonado pela mulher após falir nos negócios, enquanto a única filha saiu de casa para se casar. Um dia, aparece uma mulher (Zê Charone) que começa a instigá-lo a fazer uma retrospectiva da própria vida. "Essa peça é diferente das outras, a história toda está no passado dele. O texto prende o espectador, é um estudo sobre um caso extremo de solidão", diz Barradas.
"Os solitários têm sido objeto de grande preocupação. Pessoas que perdem a família, têm dificuldade em fazer amizade e vão se fechando, que vivem das lembranças, assistindo filmes antigos repetidamente, lendo e relendo livros, ouvindo interminavelmente as mesmas músicas. Muitos morrem, seja por doença ou suicídio, e seus corpos são descobertos alguns dias depois", completa Edyr.
Em Belém, Cláudio Barradas fundou grupos de teatro, escreveu várias peças teatrais e recebeu prêmios, foi ator e diretor de rádio novelas na PRC-5, atuou em quatro filmes de Líbero Luxardo ("Um Dia Qualquer", Marajó, Barreira do Mar", "Um Diamante e Cinco Balas" e "Brutos Inocentes") e também em novelas da TV Marajoara.
Fundou o Teatro Cabano Vai ou Racha, o Tecoara, e a Federação de Teatro. Conseguiu junto à Universidade Federal do Pará que fosse criada a Escola de Teatro (atual Escola de Teatro e dança da UFPA), onde se formou e se tornou professor. É homenageado com o nome do Teatro Universitário Cláudio Barradas.
Aos 62 anos, ordenou-se padre. Ele havia frequentado o seminário entre os 13 e os 20 anos, mas abandonou a ideia de vestir a batina por muitos anos até envolver-se com os trabalhos da Igreja da Sé, até receber o chamado do arcebisto Dom Alberto Ramos para retomar os estudos e assumir o ministério. Mesmo como padre, Barradas não largou as artes cênicas. Foi vigário na Sé e pároco em Santa Isabel e no bairro da Marambaia, em Belém.
Agende-se:
Espetáculo "Abraço",
Datas: sábado e domingo, 21 e 22/09 e também 28 e 29/09 e 05 e 06/10, às 20h
Local: Casa Cuíra (Rua Dr. Malcher 287 (entre Capitão Pedro Albuquerque e Joaquim Távora)
Ingressos a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) à venda na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo
Classificação 14 anos

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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