Programação do projeto 'Territórios' encerra após imersões no Marajó


"A Amazônia está queimando. Será que vamos conseguir chegar? O que está acontecendo?”, perguntou-se ainda na Europa a artista alemã Marianne Stüve, de 80 anos, coordenadora da Ponte Cultura, entidade que em parceria com o Espaço Na Casa do Artista (de Icoaraci), desenvolveu uma residência artística com europeus e brasileiros, em Belém, e que hoje mostrará resultados em uma exposição que ficará aberta até 30 de outubro, Na Casa do Artista, em Icoaraci.
A dúvida inicial dos artistas permaneceu ao desembarcar por aqui, no dia 15 de setembro, e foi norteadora das ações do projeto “Territórios”, pensado exatamente para reflexão e produção artística a respeito do lugar e dos deslocamentos recentes de povos pelo mundo afora. “Nos perguntamos qual a importância para o artista conhecer novos territórios, esse território, pois temos visto pelos jornais a situação das queimadas, dos conflitos com índios. Imediatamente pensamos na questão dos imigrantes na Europa e não estamos fora desse contexto”, comentou Marianne.
Em uma das imersões os artistas foram até a comunidade do Pau Furado, território quilombola em Salvaterra, na Ilha do Marajó, e ouviram as histórias de formação daquele povo, suas dores e suas lutas. Por meio da representante da comunidade, Maria José Alcântara, visitaram o primeiro museu quilombola do norte do Brasil, fruto de esforço coletivo para reconhecimento e afirmação de uma identidade negra dentro da Amazônia, que tenta se contrapor à história de séculos de apagamento de vidas que vieram da África.
Com o desejo de também compreender melhor a questão indígena, em outro encontro, desta vez em Castanhal, na Arte Fazenda Apeú, eles conversaram com a autora e pesquisadora indígena Márcia Kambeba, que tem nome civil Márcia Vieira de Silva.
Artista Márcia Kambeba durante a imersão em CastanhalArtista Márcia Kambeba durante a imersão em Castanhal (Divulgação)
Pablo Mufarrej, curador da exposição de abertura do projeto, que ainda poderá ser vista até hoje, na Galeria do CCBEU, destaca que esse interesse pela paisagem e contexto amazônico proporciona mobilidades do sentido estético da produção da arte.
“O território da arte é muito ampliado, e é bom que eles estejam aqui querendo sair desse lugar exótico e turístico, numa proposta de imersão mesmo, tanto com o lugar quanto com as pessoas”, explica o curador sobre as visitas ao Marajó e ao espaço Arte Fazenda, na vila de Apeú, em Castanhal.
“Mais do que falar de territórios como um sentido de demarcação, eu acho que esse intercâmbio, essa ponte de cultura acaba criando territórios possíveis afetivos de troca de experiências. Esse contato com a paisagem acho que é impulsionadora de processos e da percepção também de que existem códigos de comunicação universais”, destaca o curador da mostra, que apresenta esse recorte prévio, com as expressões de cada artista: escultura, pintura, objeto, site specific, performance, dentre outras linguagens. 
Com o término da residência, a ideia é que o grupo volte para a Europa e, ao longo dos próximos anos, possam ser realizadas parcerias para a circulação das obras que serão desenvolvidas. Marianne ressalta ainda algo importante deste percurso: o contato intenso com uma outra cultura de subjetividades - essencial para a arte.
Ela explica que, de um modo geral, na Alemanha, por exemplo, há uma forte inclinação para a produção artística demasiada acadêmica. “São bons artistas, mas que devem se abrir para outros territórios. Ajuda muito essa aproximação, primeiro com a  beleza das paisagens, das cores, e agora também com as pessoas. Tem tanta coisa aqui que não temos na nossa vida, as pessoas são mais felizes, mais simples, mostram hospitalidade eles se interessam. Não temos isso lá. Essa experiência mexe muito com o artista”, reflete.
Agende-se:
Abertura da Exposição “Territórios”
Data: segunda-feira, 30, às 9h
Local: Casa do Artista – Rua Padre julio Maria, 163 – Icoaraci
Informações: 91 98134.7719

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