Lendas e carimbó celebraram o imaginário popular na Arena Multivozes



Sereia, bruxa, matinta, tambor, maracas, rimas e carimbó. Personagens que passeiam pela infância dos amazônidas e sons que agitam o inconsciente coletivo, dividiram o palco na programação Vozes do Imaginário, na 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. A programação foi aberta com o Papo Cabeça, abordando o tema “O Ecoar das Lendas e suas Impulsões”, apresentado por Joyce Cursino e pela professora e escritora Cleni Guimarães. O público, formado sobretudo por estudantes, foi envolvido com narrativas que valorizam a ancestralidade.
Cleni Guimarães, no palco, falou sobre tramas popularesFoto: Maycon Nunes / Ag.ParáA Arena Multivozes lotou na manhã desta quarta-feira (28), para ouvir Cleni Guimarães falar das tramas populares. Poeta, professora e contadora de histórias, como prefere ser chamada, ela trouxe da infância em Capanema (nordeste do Estado), sua cidade natal, a paixão pelas palavras. “Eu amo contar histórias para as pessoas, independentemente da idade e do lugar. Estar aqui, na Feira do Livro, é uma emoção muito grande. Se eu morrer agora, fecho a vida felicíssima”, declarou.
Foi redesenhando os "causos" ouvidos quando criança que Cleni registrou a lenda da Maria Cachorro, conhecida no município onde cresceu. A história fala de uma mulher de idade avançada, que andava enfeitada com bijuterias e batom vermelho, era devota de São Cipriano e se banhava com plantas ácidas nas noites de sexta-feira, quando virava cachorro. O olhar da escritora sobre a trama rendeu a inclusão da lenda na antologia argentina “Leyendas Del Mundo”, em abril deste ano.
Sem limitações - Mais que a perpetuação de uma cultura local, a escritora entende este feito como um incentivo para transpor qualquer limitação. “Acredito que isso serve não só pra mim, que a escrevi, mas para as pessoas, sobretudo as crianças. Eu trabalhei demais com crianças em situação de risco. É bom que elas saibam que podem ir além, e é pra isso que eu escrevo e conto histórias. Para que as pessoas saibam que elas são capazes de passar isso adiante”, ressaltou Cleni Guimarães, pouco depois de realizar uma performance artística sobre a personagem Maria Cachorro na Arena, caracterizada de bruxa.
O professor de história afro-brasileira e indígena Cristiano Lopes veio de Santa Izabel do Pará, na Região Metropolitana de Belém, com uma turma de alunos. Ele destacou o potencial da programação de renovar a autoestima do amazônida. “Nossa cultura tem grande influência africana e indígena. Nós vivemos uma herança escravocrata, que faz com que tudo que venha do negro e do indígena chegue como uma cultura subalterna. Isso é fruto de uma construção histórica”, explicou o estudioso, destacando a importância da possibilidade de repensar essa realidade com seus alunos.
A música ficou por conta do Projeto Carimbó Vem de Bike, que subiu ao palco da Arena Multivozes para celebrar a herança de Mestre Verequete e de outros grandes representantes da cultura popular, cantando músicas sobre iaras, curupiras, feiticeiras e outros seres encantados. Cleni não demorou a se juntar à apresentadora Joyce Cursino – vestida de sereia – no salão, rodopiando com estudantes, professores e demais participantes.

Fonte: Agência Pará (Texto e Foto)

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