Temas como ancestralidade, sagrado e cultura dos povos indígenas dominaram o "Papo-Cabeça"


A importância do respeito à ancestralidade, à cultura originária do Brasil e à resistência e luta das populações nativas do nosso território. Foi essa a tônica do "Papo-Cabeça" intitulado “A mulher indígena e o bem viver”, com a indígena e geógrafa Márcia Kambeba, convidada da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que segue até o próximo domingo (1⁰), no Hangar - Centro de Convenções. Márcia conversou com a jornalista Joyce Cursino, na Arena Multivozes, no final da manhã desta sexta-feira (30), dia dedicado às vozes indígenas e originárias dentro da programação da Feira.
Márcia Kambeba deu início ao diálogo apresentando canções indígenas de sua autoria, partilhadas com representantes de outras etnias, como Tupinambá, Marajoara, Tikuna e Tembé. Posteriormente, ela falou sobre a miscigenação que marca o povo brasileiro, já que os indígenas que aqui viviam antes da chegada dos colonizadores acabaram se misturando aos europeus e, posteriormente, aos negros africanos escravizados e trazidos para cá. “Todos nós temos no nosso sangue um pouco de cada um desses povos. O importante é saber com o que nos identificamos, qual é o nosso orgulho, qual é o nosso pertencimento”, destacou.
Justamente por ser o pertencimento algo abstrato, ele não está ligado ao lugar onde a pessoa vive ou a forma como se veste. “Tem gente que acha que o indígena não é mais indígena quando não mora numa aldeia ou quando não se veste de palha e penas. A verdade é que somos indígenas porque a cultura está dentro de nós”, frisou.
A geógrafa também discorreu sobre a questão da aculturação dos povos indígenas, que tiveram seus saberes, línguas, crenças e modos de viver destruídos pelo colonizador português. Ela falou, ainda, sobre a forma como o indígena lida com a natureza, priorizando o “bem viver” em detrimento do “viver bem”. “O indígena tem um respeito muito grande pela natureza, até porque, na nossa crença, todos os seres têm um espírito, que precisa ser respeitado e que deve ser devolvido à ancestralidade, assim como todos nós”, detalhou.
A professora universitária Juliana Marques fez questão de levar uma turma de 35 alunos do curso de Pedagogia para prestigiar a apresentação. A docente, que ministra a disciplina de Direitos Humanos para diferentes cursos superiores, acredita que esse tipo de programação é fundamental para fazer os estudantes pensarem “fora da caixinha”. “A questão do indígena e a sustentabilidade é um dos pilares da nossa disciplina, por isso, decidi trazê-los aqui, para que eles possam ouvir a fala dos próprios indígenas, coisa que a gente muitas vezes não consegue dentro da sala de aula. E como futuros professores, eles precisam ter isso muito claro”, relatou.
Da mesma forma, a coordenadora pedagógica da Escola Estadual Raimundo Vianna, do bairro do Parque Verde, Norma Ferreira, levou alunos do Ensino Médio da escola para debater a questão. “Os temas tratados aqui hoje posteriormente serão explorados por ele na nossa Feira da Cultura, daí a importância de eles estarem aqui hoje”, contou.
Para o estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Gustavo Nunes, de 18 anos, a experiência foi inovadora. “A partir do que ouvi aqui hoje, com certeza, vou passar a respeitar muito mais a cultura dos nossos antepassados e passar a julgar menos, levando em conta o ponto de vista de cada um”, concluiu.

Fonte: Agência Pará (Texto e Foto)

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